sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Um dia de muitas emoções...

Ontem foi um dia de grande desgaste físico e emocional. Decidimos participar das cerimónias fúnebres de Beatriz Melancia, querendo assim manifestar a nossa solidariedade à família, em particular ao João e Joel Melancia, respectivamente marido e filho daquela. A nossa relação com a Família deu-se por intermédio do Joel, que conheci na FDL, era ele estudante no início do curso quando eu estava já a conclui-lo. Ele pertencia a um grupo de estudantes onde estavam o Alberto Ribeiro, que conhecia desde 1967, e Helder Pinho, que conhecera em 1978. Voltei a contactar com o Joel, se não erro, quando ele estava a concluir o curso (no último ano) e pertencia à turma de Direito Bancário, cujo docente me convidara para integrar a equipa que ensinava a cadeira. Depois disso, relacionámo-nos mais de perto enquanto o Joel, já advogado-estagiário, me procurava para o orientar, como patrono que escolhera. Nesse relacionamento e no posterior, conheci o João e a Beatriz, seus pais, de quem passei a fruir estima. A vida não pára e a Beatriz tomou agora assento no Céu, onde nós esperámos também tomar o nosso, logo que o Criador assim o entenda. Tive o privilégio de, publicamente, antes da urna baixar à terra, dirigir algumas palavras às dezenas de amigos presentes, cuja súmula aqui fica para reflexão: «Apresento à Família da irmã Beatriz as minhas condolências, esperando que a sua memória perdure, incentivando todos à vivência da fé que iluminou e deu esperança à vida dela. Tive o grato privilégio de conviver com ela, na sua casa, duas vezes, muitas próximas no tempo, e manterei a lembrança da sua hospitalidade e benquerença. A morte de alguém é sempre motivo de tristeza. O que é natural na nossa estrutura emocional, espiritual. Quando desaparece algum dos membros do nosso círculo de vivência isso afecta-nos. Se for uma pessoa de quem gostamos muito, afecta-nos ainda mais. São os laços que nos atam que cedem perante a inexorável chegada da morte, que é o agente da separação física. Mas para o homem e mulher de fé é apenas isso: separação física, temporária, por instantes. É nisso que creio e em função do que vivo. Somos essência do Eterno Criador e não «partículas descartáveis» ou mero pó que a terra tomará. A vida, numa outra dimensão, continua para os que tomaram para si as garantias de Deus, que se revelou, em figura humana, aos homens em geral. Falo de Jesus Cristo, aquele que disse que, falando da sua própria morte e ressurreição: «quando for levantado da terra, todos atrairei a mim.» João 12:32 Eu gosto muito das palavras de Jesus, dirigidas a Marta, uma amiga de longa data: «Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá.» João 11:25 E gosto também do diálogo que manteve com os discípulos Tomé, Filipe e Judas, quando o grupo estava desolado diante da perspectiva da sua morte e depois de lhes ter incutido ânimo com as seguintes palavras: «Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também. Mesmo vós sabeis para onde vou, e conheceis o caminho.» (Fica aqui o texto bíblico, que não desenvolvemos, por falta de tempo. Sabem como é, os profissionais do cemitério têm horários a cumprir! A ideia era chamar a atenção da a atitude interpelativa de cada um e relevar as resposta de Jesus Cristo, com interesse para as nossas interrogações hodiernas:
“Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto. Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta. Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras. Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras. Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai. E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei. Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós. Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis. Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós. Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele. Disse-lhe Judas (não o Iscariotes): Senhor, de onde vem que te hás-de manifestar a nós, e não ao mundo? Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada. Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou. Tenho-vos dito isto, estando convosco. Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito. Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize. Ouvistes que eu vos disse: Vou, e venho para vós. Se me amásseis, certamente exultaríeis porque eu disse: Vou para o Pai; porque meu Pai é maior do que eu. Eu vo-lo disse agora antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis. Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim; Mas é para que o mundo saiba que eu amo o Pai, e que faço como o Pai me mandou. Levantai-vos, vamo-nos daqui.”)
Não é fatal que vivamos em função do desconhecido ou arrastando a existência como se tudo terminasse numa mais ou menos concorrida e lacrimejada cerimónia fúnebre. Ou ficar dependente de atitudes alheias, que nos garantirão um devir além da morte sossegado. Podemos indagar o que quisermos, andar pelos caminhos que escolhermos, adoptar a religião mais compatível com as nossas opções filosóficas, ou não querer nada com o que possa parecer religioso. Podemos até matar Deus na nossa mente, expulsá-lo do nosso coração, viver o nosso percurso sem balizas ou limitações. Podemos tudo. Por mim, à semelhança da querida Beatriz, que está agora com o Senhor e os seus santos, prefiro confiar, sem reservas, na manifestação objectiva do amor de Deus, que não me quis sem opção prisioneiro dum destino sem luz, duma morte sem esperança, dum túmulo frio sem saída. Por isso dou-vos este singelo testemunho e peço que me ajudem a manter-me neste caminho de vida, crendo em Jesus até que a morte, enquanto, como último inimigo, não for vencida e me separe de vós.» Faro, 20 de Fevereiro de 2014. José Manuel Martins

1 comentário:

  1. Sem muitas palavras, mas um sentimento enorme: Muito Obrigado.

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