quinta-feira, 4 de abril de 2024

Faz falta um grupo parlamentar?

     Não esperava já outra missiva do Elias Bogalho. No entanto, devia saber que os seus muitos cuidados com o que interessa às pessoas, em geral, geram-lhe sempre muitíssimas perplexidades, deixem-me dizer assim. Na sua letra miúda, vê-se que apressada, deu-me conta duma experiência recente. Nem o que não é fácil de criticar escapa à sua observação. Noutras ocasiões, sempre a propósito do que lhe parece o bem de todos, mesmo que o «todos» se restrinja aos do prédio onde reside, abordou o assunto, sempre com elevação e abrindo-se às várias perspectivas, tolerante, compreensivo. O Elias raramente é hostil, seja ao que for, sempre pronto a compreender primeiro as razões duma ideia, os pressupostos duma acção, o significado de um gesto. Sempre à procura das causas, não julga sem as apurar. Às vezes, desespera-se por não ter tomado posição de imediato (cá para mim, o que não aceita lá muito bem é ter de subscrever o que outros concluíram antes, os que diz agirem «temerariamente»...)
     Afinal, o que queria o Elias dizer-me? Desculpem, para não correr o risco de "distorcer" o cerne da sua preocupação, transcrevo o que para agora interessa: 
    «Vê lá, tenho andado por aí a perorar no sentido de haver maior apoio público para melhorar as condições de quem é dono e cuidador de animais, gatos, cães ... Quase aderi ao discurso político dos defensores da causa animal. Só não lhes ofereci o meu voto porque a "causa animal", só por si, quando tantos outros assuntos estão por solucionar, não justifica debates parlamentares ou sustento de deputados. Era isso que pensava, mas receio ter de voltar ao assunto e rever conceitos! Bem, na verdade, sabemos os dois, não é assunto fácil, hoje, conviver com os que consideram cães e gatos "filhos" ou "amigos" que se comportam melhor que filhos, primos, tios, colegas... Já ouviste, certamente, a frase: "Quanto mais lido com gente, mais gosto de animais!". Há pessoas que pensam assim, desiludidos. Esses apoiam que se dê veterinário, internamento hospitalar, cemitério próprio, tudo o que cães e gatos merecem! É bonito e, como te tenho sempre dito, devem consegui-lo com o dinheiro próprio, organizando-se. Não exigindo impostos, taxas, mais contribuições dos demais que não constituem família incluindo animais, por muita estimação que tenham por eles. Há um custo/benefício que esses concidadãos devem equacionar: suportar a manutenção dos animais de companhia para que eles lhes façam...companhia! Vês o meu ponto de vista ou estás a milhas do tema? Não te ouvi afirmar - ou estou equivocado? - que esses cidadão eleitores - os donos de animais de companhia ... - deviam ter uma "forte representação parlamentar" quando discutíamos os temas das eleições gerais? Bem me lembro de contrariar a tua tese. Até falavas de "um grupo parlamentar"! Exagero teu. O que é preciso é que cada cidadão cuide muito bem do que é seu, a custo zero para o erário público, e que a sociedade, em geral, se organize como deve ser para lhes exigir isso mesmo! O que é isso de correr o mundo a apregoar os direitos dos ditos bichos, dos donos dos bichos, pedir votos para diminuir impostos - sempre a pensar nos donos dos bichos...- e, depois, não ter uma palavra quando se trata de sancionar os cujos, que desleixam os seus deveres? É verdade e digo-te já porquê. Não foi há muitos dias, andava por aqui, à porta, um cão encoleirado, aparentemente "limpo e asseado" a meter o focinho em tudo que cheirava a restos de comida, pateando os sacos de plástico (aqueles que os cidadãos não se dão ao cuidado de introduzir no sítio próprio para a recolha dos dejectos...). Vi que estava esfomeado, coitado! Achas bonito, encoleirar um animal e mandá-lo à rua cuidar de matar a fome? Não me alongo. Para terminar, fotografei o animal e dei conta do sucedido ao presidente da junta de freguesia. Não voltei a ver o cão mas também não sei se está ou não a ser bem tratado (pelo menos a comer melhor...) no canil municipal. O custo devia ser imputado ao dono do animal, não entendes assim? Ou vais dizer-me que, afinal, a "problemática animal" exige mesmo um "grupo parlamentar"? Só se for para propor, com mais poder, que se prendam os donos que deixam os seus "amigos", mais que "filhos" passar fome...»
    Por mim, vou pensar no assunto e, talvez, defender que nas Assembleias de Freguesia se constitua um «grupo parlamentar» cujos membros sejam capazes de propor «legislação» para impedir animais encoleirados de alardear o seu estado faminto pelas ruas que todos frequentamos... Deve lá constar uma norma a prever que quem paga a acção politica desse «grupo parlamentar» e os custos associados ao cuidado dos animais esfomeado são os respectivos donos... E devem pagar com «língua de palmo». Ao Elias, querido amigo, vou apenas recomendar que tenha... tolerância, compreensão! Não vou insistir no reforço do partido que defende a causa animal... 

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