quinta-feira, 2 de junho de 2016

Um tempo de descoberta...

Escrevi este texto há muito tempo... Então, ainda andava à Procura da Minha Prima Maria João, que sabia viver em Luanda. Encontrei-a, recentemente. Fiquei Feliz.


MUKANDA DA DIÁSPORA

Um Tempo de Descoberta...

Vim ao sítio SanzalAngola à descoberta!
As memórias foram-se obnubilando enquanto investia na minha família, na conclusão do meu curso e na afirmação da minha carreira profissional. Tinham-se passado, entretanto, cerca de 28 anos desde que deixara Luanda…
Não é que tivesse esquecido a minha experiência pessoal em Angola. Não. Ela era, apesar de curta, demasiado intensa e marcante e não podia ser esquecida. Ficou adormecida…
Em 2001 fiquei, de repente, livre dum regime de trabalho profissional no limiar da escravidão... Tinha investido quase tudo nessa afirmação profissional. Chegara, antes do tempo, mas em bom tempo, a oportunidade de apenas trabalhar quando, quanto e como quisesse… Foi deslumbrante nos primeiros meses: sem horários, com tempo livre, mas disponibilidade para conhecer pessoas, conviver, passear e… descobrir!
Sim, descobrir. Comecei por descobrir mais sobre aqueles com quem fizera o serviço militar em Luanda, Ambriz, Zau-Évua, Benza… Dei-lhes depois a minha parte da descoberta: Zau-Évua, terra de ninguém, sítio de vivência. Foi voltar, à procura duma memória gratificante e dolorosa…
Sobrava–me ainda tempo. Passei à descoberta do que interessava para uma memória que me apoquentava muito, por duas razões: ouvira falar, ainda adolescente, em Luanda, duma «injustiça» do Governo-Geral de Angola, nos anos 50, acerca duma Missão em Quirimbo; depois conheci, em Portugal, nos anos 90, o próprio missionário injustiçado. Mas eu só conhecia o Cuanza-Sul de passagem, como visitante ou viajante. Muito do que descobri (aprendi) devo-o ao sítio SanzalAngola. Pois é! Um amigo de longa data, filho de Giuseppe e Manuela Berardinelli, naturais de Porto Amboim, a quem recorri para obter informação disse-me: «Vai à SanzalAngola! Está lá muita gente que pode ajudar-te.»
Foi assim que descobri este sítio de encontros, e através do qual enquadrei, no tempo e no espaço, a minha adolescência e juventude em Angola. É verdade. Chegara a Angola com 15 anos, pouco antes do Natal de 1965. Toca a trabalhar. De imediato. No final de 1966 regressei à Europa, e estudei 6 meses em Lisboa. Voltei para Luanda em Julho de 1967 para… trabalhar e, agora, estudar. Fiz o meu primeiro exame no Liceu Salvador Correia, como aluno externo, em 1969 (em 1968 o Governador-Geral impediu-me de fazê-lo!).
Na SanzalAngola descobri o Liceu onde conclui o 7º ano… Depois fui à descoberta do Cuanza-Sul, percorrendo fios e fios, vendo fotos da Gabela, de Porto Amboim, da Cela, da Fazenda CADA…
Vi tudo na SanzalAngola, nas experiências pessoais e familiares daqueles com quem, virtualmente, primeiro, e, com alguns, fisicamente, depois, passei horas e horas a trocar mensagens e experiências. E lá contei a história que estava alojada na minha memória desde os 16 anos… Está em Recantos do Mundo. Tê-la-ia contado sem o recurso deste sítio de descoberta, sem o contributo de amigos que nunca vi, mas não seria a mesma coisa!
Finalmente, sobrando ainda o tempo que antes me tomavam as lides profissionais, dei forma a algumas memórias que foram vindo ao de cima e que me atiravam para as ruas de Luanda, para as vivências quentes, tropicais, fraternas, solidárias… Contei umas pequenas histórias, que estarão alojadas no arquivo deste sítio de descoberta, a SanzalAngola, na sua versão mais inocente, mais realista…
Agora estão no miolo do meu livrinho entre laços d’Ontem! São histórias, com realismo e ficção, que doei a mim mesmo e deixo aos vindouros, da minha juventude, apesar de tudo, feliz! E estão contadas assim com a ajuda dos amigos maravilhosos que fui encontrando e que me fizeram descobrir, com as suas vivências contadas aqui, no sítio SanzalAngola, mais do que eu próprio intui, na altura… Foi um tempo de descoberta de mim, e daquela circunstância: afinal vivera dos 15 aos 25 anos em Angola e fizera-me lá para a vida! E ainda é tempo de descoberta: há na minha experiência pessoal factos que só obterão completo esclarecimento com a participação de muitos de nós aqui…
Tenha eu ânimo para falar deles!
José Manuel Martins
PS: Ainda não soube da minha prima Maria João Gonçalves Martins, apesar do esforço denodado de muitos amigos que encontrei neste espaço de descoberta! E queria tanto encontra-la… E foi um dos primeiros pedidos de ajuda que fiz quando, em 2003, cheguei aqui!

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