Aos cinco dias do mês de Dezembro de
2015, pelas 16 horas, quero agradecer à Assembleia de Deus Pentecostal de
Lisboa, ao seu pastor, Dinis Rodrigues, e ao respectivo Ministério, o facto de
se empenharem na realização deste evento para homenagear José da Cunha de
Oliveira Pessoa e apresentar o meu livro
José Pessoa. Missionário por vocação.
Para mim esta apresentação pública faz
todo o sentido aqui, onde conheci José Pessoa, primeiro como professor e depois
pastor; e faz também todo o sentido porque foi aqui, nesta Assembleia de Deus,
que ele exerceu cerca de 20 anos do seu ministério.
Quero agradecer de igual forma a todos
os que vieram para estar connosco e dar brilhantismo a esta homenagem e à apresentação
do meu livro. Todos certamente terão uma experiência pessoal do ministério de
José Pessoa e neste momento, e em particular, durante a leitura do livro, as
vossas emoções ficarão ao rubro e a vossa esperança em Cristo será fortalecida.
Por fim, quero agradecer à Letras d’Ouro
por continuar a acreditar que é possível afirmar a fé, tornando-a cultura,
através das dezenas de obras que já publicou, algumas delas recordando o que
foi o Movimento do Espírito Santo no nosso país através desses testemunhos.
Este livro foi escrito em cumprimento de
um dever que me onera e do qual ainda não me libertei. Com efeito, comprometi-me
com Hermínia Correia, a cuja memória dedico esta obra, em dar utilidade à colecção
da revista Novas de Alegria que me ofertou, e que continua a ser a fonte
relevante para quem quer conhecer o passado deste Movimento do Espírito Santo.
Foi escrito também para erguer um
memorial a um homem ímpar, que se envolveu desde sempre no trabalho missionário,
desde a Guiné, nos anos 50, a Timor nos anos 60, desde a Amadora até às Beiras,
percorrendo o país e o mundo.
E, ainda, foi escrito para deixar às
novas gerações uma perspectiva do que foi esse ministério valoroso, que durou
40 anos, na comunicação transversal com todas as igrejas do Movimento, na
relação fraternal com as demais, no ensino bíblico sobre a doutrina da
salvação.
Em relação ao conteúdo do livro não
direi nada. Com a devia vénia, cabe aos leitores apreciá-lo. Espero que muito
se interessem e adquiram a obra nas livrarias, enquanto estiver disponível. A
edição é pequena, como é pequena, mas privilegiada, a multidão dos que lêem.
Mas devo duas palavras apenas para
referir as dificuldades que tive em escrevê-lo.
Por um lado, as fontes de acesso público
são escassas. Tirando as Revistas do Movimento, resta o pouco que os meios de
comunicação da época reportaram. Por outro, as fontes privadas ou são «formais»
ou estão inacessíveis por preconceito ou falta de amor à cultura. Por último, algumas
foram-nos mesmo inacessíveis como as que se referem ao período na Escócia e às
ligações com os EUA e o Canadá.
Finalmente, algumas palavras de
homenagem à memória do homem que, a propósito do meu livro José pessoa. Missionário
por vocação, recordamos.
Decorreram quase 23 anos desde que José
Pessoa morreu, em Coimbra, aos 64 anos de idade. Ele e Mari Bakken foram
homenageados, a título póstumo, na celebração do octogésimo aniversário das
Assembleias de Deus em Portugal, em Outubro de 1993. Fez e faz todo o sentido
invocar em relação a ele o texto bíblico que ornou a sua sepultura em Coimbra,
no cemitério de Conchada: «Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste
fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.» Esse texto usou-o
muitas vezes para conclamar o povo de Deus para o serviço feito com humildade e
zelosamente.
O passado recente faz tão parte do
presente que sem ele a luz é muito ténue. Não é possível repetir o passado, mas
ele é inspirador para o que se quer do presente e para a prognose possível do futuro.
Quando pensamos na vida e testemunho dum
homem, que entregou por inteiro a sua vida a uma causa - por muito, pouco ou
nenhum significado que ela ainda tenha - a respectiva memória deve ser
periodicamente reavivada. É do senso comum e todos os dias isso sucede.
Quando esse homem foi um Ministro do
Evangelho, que se entregou, por inteiro, desde a juventude até ao último sopro
de vida, a realizar a Obra de Deus, cumprindo a ordem de Jesus de pregar a toda
a criatura por todo o mundo, deixar o seu testemunho e exemplo de vida no
passado - usufruído por poucos hoje, completamente ignorado por todos amanhã -
seria incompreensível.
À semelhança doutros heróis, cujo
exemplo, muitas das vezes antiquíssimo, é inspirador e ajuda à perseverança na
fé, é necessário recordar os heróis «dos dias passados» que estão mais próximos
de nós e de quem são muito mais tangíveis os testemunhos para aqueles que crêem
para a conservação da alma e não recuam para a perdição.
José Pessoa é referência inelutável como
Ministro do Evangelho, que deu ênfase ao trabalho pioneiro e missionário.
Embrenhou-se, ainda jovem, na inóspita Guiné Portuguesa e percorreu o mundo,
sempre à procura de apoios para a evangelização dos portugueses.
Na sua acção ministerial incentivava os
jovens a escrever sobre apologética cristã e moderava os seus ímpetos;
aconselhava com delicadeza, com recurso à persuasão, sem violentar consciências
ou anular a liberdade de pensamento, sempre disponível para ouvir e dialogar;
com modo ungido, sereno, simpático, inteligente, sensível, delicado e
assimilável pregava e ensinava; interpretava, com entusiasmo outros pregadores
relevantes, como se fosse ele o pregador, com o retorno de muitos se
confessarem pecadores e aceitarem a remissão dos pecados pelos méritos de Jesus
Cristo; lidava com humildade e simpatia com todos quantos visitavam a igreja
para ouvir a Palavra de Deus; relacionava-se com os crentes das várias regiões
do país, em cujas casas era recebido com hospitalidade; praticava a caridade
cristã em relação aos mais desfavorecidos, nomeadamente crianças a quem
proporcionava simples brinquedos; agia, generosamente, com os companheiros do
ministério que tinham necessidades particulares e os abençoava, com apoio
financeiro, em particular pelo Natal; estimulava o esforço dos que queriam
aprender para melhor servir a Causa do Mestre ou valorizar-se, emprestando ou
oferecendo livros apropriados, regozijando-se com o êxito que alcançavam;
conjugava os seus talentos com os de Mari Bakken, a sua dilecta esposa, para apoiar
famílias numerosas, com filhos jovens, dedicando-lhes tempo, interessando-se
pelos respectivos assuntos e aconselhando com doçura; comportava-se de modo
civilizado, sem perder a postura ou a calma, nas situações mais comuns do
dia-a-dia; conjugava todas as suas virtudes de carácter quando exortava,
abrindo a Bíblia e assinalando, fosse qual fosse o assunto, o texto que
fundamentava o ensino que ministrava; reparando no que não estava bem procurava
oportunidade para, em privado e amorosamente evidenciar o ensino bíblico
atinente; sabia valorizar o ministério pastoral entendendo-o como um múnus
abrangente de modo a servir as pessoas em vertentes múltiplas das suas
necessidades, não o reduzindo à capacidade discursiva; dava exemplo de trabalho
dedicado, exaustivo, permanente, sem baixar os braços; suportava, sem revolta,
as muitas incompreensões, e até atitudes de desprezo, a que esteve sujeito;
tratava com cavalheirismo os amigos e conhecidos; solidarizava-se com os
companheiros de ministério que se viram em apuros por causa da acção
persecutória dos agentes da igreja tradicional em vários locais recônditos do
país; celebrava os êxitos na evangelização protagonizados por obreiros cujos
recursos financeiros, muitas vezes, ajudou a granjear; sabia em todos os actos
que praticava honrar o sublime nome de Jesus Cristo, o seu Mestre, o que até os
que não alcançaram o dom da fé reconheceram.
JOSÉ
PESSOA, missionário por vocação perpetua o exemplo do dedicado,
valoroso e talentoso servo de Deus que foi um indivíduo de fortes convicções
doutrinárias, de carácter íntegro e de personalidade influente, educado, culto,
afável, fluente na palavra e cuidadoso no trato, intérprete, tradutor e orador
em grandes campanhas evangelísticas, professor e grande dinamizador da obra missionária,
que marcou, durante décadas, os que partilharam o seu percurso terreal com a
sua verticalidade, lhaneza e espírito empreendedor e encorajador. E traz à
memória de todos o homem que, desde jovem, citando Lutero, desafiava os amigos
que apoiavam o seu ministério, enviando cartas, orando e ofertando: «Vivamos
como se Cristo tivesse sido crucificado ontem, ressuscitado hoje e viesse
amanhã!»
Pode não ser comum, mas justo é
relembrar quem nos serviu com tanto empenho!
José
Pessoa, Missionário por vocação terá, pelo menos, esse primordial
mérito de permitir aos leitores ter um vislumbre da vida de um homem que sabia
que «sem fé é impossível agradar a Deus» e por ela alcançou bom testemunho,
comprovável nas muitas vidas que conduziu a Jesus Cristo e para os quais estão
bem vivas as aflições por que passou das quais não eram dignas.
Relembrar um tal percurso de vida é o
primeiro e principal propósito de José
Pessoa, missionário por vocação.
Lisboa, 5 de Dezembro de 2015
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