sábado, 5 de dezembro de 2015

JOSÉ PESSOA, 23 ANOS DEPOIS DA SUA MORTE…

Aos cinco dias do mês de Dezembro de 2015, pelas 16 horas, quero agradecer à Assembleia de Deus Pentecostal de Lisboa, ao seu pastor, Dinis Rodrigues, e ao respectivo Ministério, o facto de se empenharem na realização deste evento para homenagear José da Cunha de Oliveira Pessoa e apresentar o meu livro José Pessoa. Missionário por vocação.
Para mim esta apresentação pública faz todo o sentido aqui, onde conheci José Pessoa, primeiro como professor e depois pastor; e faz também todo o sentido porque foi aqui, nesta Assembleia de Deus, que ele exerceu cerca de 20 anos do seu ministério.
Quero agradecer de igual forma a todos os que vieram para estar connosco e dar brilhantismo a esta homenagem e à apresentação do meu livro. Todos certamente terão uma experiência pessoal do ministério de José Pessoa e neste momento, e em particular, durante a leitura do livro, as vossas emoções ficarão ao rubro e a vossa esperança em Cristo será fortalecida.
Por fim, quero agradecer à Letras d’Ouro por continuar a acreditar que é possível afirmar a fé, tornando-a cultura, através das dezenas de obras que já publicou, algumas delas recordando o que foi o Movimento do Espírito Santo no nosso país através desses testemunhos.

Este livro foi escrito em cumprimento de um dever que me onera e do qual ainda não me libertei. Com efeito, comprometi-me com Hermínia Correia, a cuja memória dedico esta obra, em dar utilidade à colecção da revista Novas de Alegria que me ofertou, e que continua a ser a fonte relevante para quem quer conhecer o passado deste Movimento do Espírito Santo.
Foi escrito também para erguer um memorial a um homem ímpar, que se envolveu desde sempre no trabalho missionário, desde a Guiné, nos anos 50, a Timor nos anos 60, desde a Amadora até às Beiras, percorrendo o país e o mundo.
E, ainda, foi escrito para deixar às novas gerações uma perspectiva do que foi esse ministério valoroso, que durou 40 anos, na comunicação transversal com todas as igrejas do Movimento, na relação fraternal com as demais, no ensino bíblico sobre a doutrina da salvação.

Em relação ao conteúdo do livro não direi nada. Com a devia vénia, cabe aos leitores apreciá-lo. Espero que muito se interessem e adquiram a obra nas livrarias, enquanto estiver disponível. A edição é pequena, como é pequena, mas privilegiada, a multidão dos que lêem.

Mas devo duas palavras apenas para referir as dificuldades que tive em escrevê-lo.
Por um lado, as fontes de acesso público são escassas. Tirando as Revistas do Movimento, resta o pouco que os meios de comunicação da época reportaram. Por outro, as fontes privadas ou são «formais» ou estão inacessíveis por preconceito ou falta de amor à cultura. Por último, algumas foram-nos mesmo inacessíveis como as que se referem ao período na Escócia e às ligações com os EUA e o Canadá.

Finalmente, algumas palavras de homenagem à memória do homem que, a propósito do meu livro José pessoa. Missionário por vocação, recordamos.
Decorreram quase 23 anos desde que José Pessoa morreu, em Coimbra, aos 64 anos de idade. Ele e Mari Bakken foram homenageados, a título póstumo, na celebração do octogésimo aniversário das Assembleias de Deus em Portugal, em Outubro de 1993. Fez e faz todo o sentido invocar em relação a ele o texto bíblico que ornou a sua sepultura em Coimbra, no cemitério de Conchada: «Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.» Esse texto usou-o muitas vezes para conclamar o povo de Deus para o serviço feito com humildade e zelosamente.
O passado recente faz tão parte do presente que sem ele a luz é muito ténue. Não é possível repetir o passado, mas ele é inspirador para o que se quer do presente e para a prognose possível do futuro.
Quando pensamos na vida e testemunho dum homem, que entregou por inteiro a sua vida a uma causa - por muito, pouco ou nenhum significado que ela ainda tenha - a respectiva memória deve ser periodicamente reavivada. É do senso comum e todos os dias isso sucede.
Quando esse homem foi um Ministro do Evangelho, que se entregou, por inteiro, desde a juventude até ao último sopro de vida, a realizar a Obra de Deus, cumprindo a ordem de Jesus de pregar a toda a criatura por todo o mundo, deixar o seu testemunho e exemplo de vida no passado - usufruído por poucos hoje, completamente ignorado por todos amanhã - seria incompreensível.
À semelhança doutros heróis, cujo exemplo, muitas das vezes antiquíssimo, é inspirador e ajuda à perseverança na fé, é necessário recordar os heróis «dos dias passados» que estão mais próximos de nós e de quem são muito mais tangíveis os testemunhos para aqueles que crêem para a conservação da alma e não recuam para a perdição.
José Pessoa é referência inelutável como Ministro do Evangelho, que deu ênfase ao trabalho pioneiro e missionário. Embrenhou-se, ainda jovem, na inóspita Guiné Portuguesa e percorreu o mundo, sempre à procura de apoios para a evangelização dos portugueses.
Na sua acção ministerial incentivava os jovens a escrever sobre apologética cristã e moderava os seus ímpetos; aconselhava com delicadeza, com recurso à persuasão, sem violentar consciências ou anular a liberdade de pensamento, sempre disponível para ouvir e dialogar; com modo ungido, sereno, simpático, inteligente, sensível, delicado e assimilável pregava e ensinava; interpretava, com entusiasmo outros pregadores relevantes, como se fosse ele o pregador, com o retorno de muitos se confessarem pecadores e aceitarem a remissão dos pecados pelos méritos de Jesus Cristo; lidava com humildade e simpatia com todos quantos visitavam a igreja para ouvir a Palavra de Deus; relacionava-se com os crentes das várias regiões do país, em cujas casas era recebido com hospitalidade; praticava a caridade cristã em relação aos mais desfavorecidos, nomeadamente crianças a quem proporcionava simples brinquedos; agia, generosamente, com os companheiros do ministério que tinham necessidades particulares e os abençoava, com apoio financeiro, em particular pelo Natal; estimulava o esforço dos que queriam aprender para melhor servir a Causa do Mestre ou valorizar-se, emprestando ou oferecendo livros apropriados, regozijando-se com o êxito que alcançavam; conjugava os seus talentos com os de Mari Bakken, a sua dilecta esposa, para apoiar famílias numerosas, com filhos jovens, dedicando-lhes tempo, interessando-se pelos respectivos assuntos e aconselhando com doçura; comportava-se de modo civilizado, sem perder a postura ou a calma, nas situações mais comuns do dia-a-dia; conjugava todas as suas virtudes de carácter quando exortava, abrindo a Bíblia e assinalando, fosse qual fosse o assunto, o texto que fundamentava o ensino que ministrava; reparando no que não estava bem procurava oportunidade para, em privado e amorosamente evidenciar o ensino bíblico atinente; sabia valorizar o ministério pastoral entendendo-o como um múnus abrangente de modo a servir as pessoas em vertentes múltiplas das suas necessidades, não o reduzindo à capacidade discursiva; dava exemplo de trabalho dedicado, exaustivo, permanente, sem baixar os braços; suportava, sem revolta, as muitas incompreensões, e até atitudes de desprezo, a que esteve sujeito; tratava com cavalheirismo os amigos e conhecidos; solidarizava-se com os companheiros de ministério que se viram em apuros por causa da acção persecutória dos agentes da igreja tradicional em vários locais recônditos do país; celebrava os êxitos na evangelização protagonizados por obreiros cujos recursos financeiros, muitas vezes, ajudou a granjear; sabia em todos os actos que praticava honrar o sublime nome de Jesus Cristo, o seu Mestre, o que até os que não alcançaram o dom da fé reconheceram.
JOSÉ PESSOA, missionário por vocação perpetua o exemplo do dedicado, valoroso e talentoso servo de Deus que foi um indivíduo de fortes convicções doutrinárias, de carácter íntegro e de personalidade influente, educado, culto, afável, fluente na palavra e cuidadoso no trato, intérprete, tradutor e orador em grandes campanhas evangelísticas, professor e grande dinamizador da obra missionária, que marcou, durante décadas, os que partilharam o seu percurso terreal com a sua verticalidade, lhaneza e espírito empreendedor e encorajador. E traz à memória de todos o homem que, desde jovem, citando Lutero, desafiava os amigos que apoiavam o seu ministério, enviando cartas, orando e ofertando: «Vivamos como se Cristo tivesse sido crucificado ontem, ressuscitado hoje e viesse amanhã!»   
Pode não ser comum, mas justo é relembrar quem nos serviu com tanto empenho!
José Pessoa, Missionário por vocação terá, pelo menos, esse primordial mérito de permitir aos leitores ter um vislumbre da vida de um homem que sabia que «sem fé é impossível agradar a Deus» e por ela alcançou bom testemunho, comprovável nas muitas vidas que conduziu a Jesus Cristo e para os quais estão bem vivas as aflições por que passou das quais não eram dignas.
Relembrar um tal percurso de vida é o primeiro e principal propósito de José Pessoa, missionário por vocação.

Lisboa, 5 de Dezembro de 2015


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