Esta manhã, ainda cedo,
lembrei-me que lera a notícia de que Acácio Pinheiro falecera. Avivaram-se-me
tempos marcantes. Em 1976, recém-chegados de Angola, no início do Curso de Direito
na FDL, fomos morar para Palma de Baixo, por favor duma família de irmãos que
participavam na eclésia Assembleia de Deus, em Sete Rios. Se bem me lembro,
nessa altura, João Sequeira Hipólito era ainda o responsável directo por essa
Congregação, mas não tardou muito que fosse substituído por Acácio Pinheiro,
que deixara a cidade de Coimbra. O tempo era de grande empenhamento juvenil e
ali juntou-se um grupo de jovens talentosos, incluindo os filhos do novo
responsável. Lembro-me do estilo pessoal, da simpatia, do cuidado, do carinho,
da dedicação de Acácio Pinheiro. Eu tinha 26 anos e o nosso primeiro filho
nasceu no seio dessa comunidade que nos acolheu tão amorosamente. Nesse tempo,
nos dias em que se reunia a congregação, lá íamos nós, à noite, em grupo, da
Palma de Baixo para a Estrada de Benfica. Desse grupo, ao que sei, restamos
nós, eu e a minha mulher. Os outros eram já bem maduros, podiam ser nossos
pais, nossos tios, nossos avós. Até a mais nova do grupo, da nossa idade, já
não estará entre nós. Até finais de 1979, tive o privilégio de partilhar a
convivência fraternal nessa comunidade, tão dinâmica, tão acolhedora, tão bem
servida por Acácio Pinheiro. Passaram 36 anos, período durante o qual, sempre
que nos encontrámos, me tratou com tanta deferência! É uma referência que não
vou esquecer! Deus teve o cuidado de pôr um homem bom no meu caminho quando eu
precisei, nesses idos anos de todas as incertezas, em particular para os que
abandonaram as cidades onde viviam, e queriam construir o seu futuro, voltando
à Europa sem ele.
Em Sete Rios estava um exemplar
homem de Deus!
Lembrei-me também do que estudara
nos últimos meses sobre o percurso ministerial de José da Cunha de Oliveira
Pessoa, para escrever JOSÉ PESSOA,
MISSIONÁRIO POR VOCAÇÃO, e dos vários episódios em que esteve presente Acácio
Pinheiro. Neles se exaltam a amizade, a solidariedade, a fraternidade. José
Pessoa chegou à cidade de Coimbra para dirigir uma novel comunidade
pentecostal. Ali fez amizade com Acácio Pinheiro, com a sua família, que se
manteve até à sua morte prematura. José Pessoa era homem de afectos e teve-os
por base no seu trabalho em Portugal, durante o qual construiu amizades
imorredouras. A razão principal porque manteve, sempre, na «sua agenda»
ministerial igreja de Coimbra, em particular, foi essa ligação de coração a
muitos amigos e irmãos na fé. Estavam, na cidade de Coimbra, muitos a quem
conquistou pelo coração, que estiveram com ele desde os primórdios do trabalho
pentecostal até ao termo dos seus dias terreais, envolvendo-se em várias
iniciativas que tiveram o seu apoio, designadamente nas Beiras. Acácio
Pinheiro, que foi um dos «fundadores» da Assembleia de Deus de Coimbra, veio
para Lisboa, com a família, e integrou o Ministério da Assembleia de Deus de
Lisboa e, depois, assumiu responsabilidades pastorais em várias áreas de
trabalho, como Sete Rios, Algés e Damaia. Foi esse amigo, desde os tempos de
Coimbra, que, num momento significativo para a sua vida ministerial, lhe deu
apoio. Na verdade, depois de um período ministerial apagado do seu filho David
B. Pessoa, em Lisboa, foi Acácio Pinheiro que apoiou, entusiasticamente, a
iniciativa do trabalho de evangelização pioneiro na Vila da Sertã, em 1989, no
qual também o próprio José Pessoa investira o seu prestígio pessoal e
ministerial.
Que bonito exemplo nos deixou
Acácio Pinheiro! Agora pertence também aos heróis da fé que estão na nossa
memória.
Sem comentários:
Enviar um comentário