sexta-feira, 13 de março de 2015

«Não andeis ansiosos por coisa alguma, mas...»

Sinto nervosismo por causa do muito que oiço, leio, observo... Isso às vezes é tão intenso que parece ansiedade... Sinto desejo de fazer algo que me interessa muito, que exige disponibilidade, concentração, dedicação... Mas não avanço e os dias sucedem-se na expectativa de que se reúnam as melhores condições para abandonar o estádio de inoperância. Estar de mãos vazias com a cabeça cheia de projectos por realizar gera impaciência, condição para o estado ansioso que tolhe a criatividade... Sinto que as mudanças à minha volta exigem respostas dinâmicas de adaptação... Mas elas ocorrem a tal velocidade e a minha resposta é sempre tão tardia que fico para trás a pensar se nalgum momento recupero o tempo perdido.
É a constatação de que não acompanho a velocidade da luz, movido a carvão, por muito que me adapte... o que é novo deixa para trás o antigo, e isso sempre foi assim... Não se exija a Carlos Lopes que faça hoje a maratona e corte a meta em primeiro lugar com o tempo que o tornou famoso... Essa pressa do novo e o passo lento de que sou capaz faz-me recear que vou, não tarda, ficar a «falar sozinho», ansioso...
A rapidez e eficiência com que se fazem diagnósticos de doenças das quais, muito provavelmente, não se morrerá está a gerar uma nova e perigosa ansiedade. Por isso, ir ao médico, hoje, e exigir exames a tudo (e para tudo...) é um caminho perigoso que muita gente está a trilhar...
O problema maior é que a morte (a inexorável possibilidade de morrer a cada instante...) deixa as pessoas muito ansiosas... Num tempo em que a ciência se multiplica, em que se pretende prolongar a vida mediante «o diagnóstico precoce» e se fazem, para isso, exames completos, com recurso a máquinas que fotografam tudo o que encontram, por mais minúsculas que sejam as «sombras», os «tumores», os «sinais», as «distorções», criam-se as condições para andar permanentemente solícitos com o que «nos vai acontecer» se não formos operados já... Há um hipocondria generalizada entre quem tem acesso a todos os meios tecnológicos para detectar «sinais» de doença que começou na inquietação sobre a possibilidade de «morrer cedo» ou de uma «doença evitável» se a ciência fizesse o seu papel a tempo e horas...
Não há melhor do que detectar uma doença a tempo de a debelar, se for o caso, ou minorar o sofrimento, se não houver solução médica. Mas andar à procura de sinais de doenças, que nunca o serão ou que raramente se «mostrarão» sem recurso a essa sofisticação tecnológica, é meio caminho andado para viver ansioso...
É verdade que, os cristãos, aceitam facilmente as palavras de Jesus («Não andeis ansiosos pela vossa vida». «Não andeis ansiosos dizendo: O que comeremos?» «Não andeis ansiosos pelo dia de amanhã»)  mas com muita dificuldade aceitam a sua ideia (Deus cuida dos que são seus e providencia o necessário...). Sintetizando:«Não andeis ansiosos por coisa alguma!»
Vou dedicar-me a observar as aves do céu e os lírios do campo com mais atenção e depender do Criador...

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