sexta-feira, 27 de agosto de 2010

TEMPO DE SER AVÔ

É tempo de nascer
e tempo de morrer…
uma melodia que ecoa
entre dois longos tempos
ouço chorar a criança
vejo o velho esmorecer

Só ficou o sinal
agora tão banal…
a ausência de memória
de choro e muitos ais
sou menino sem lembrança
da parte de mim que é mortal

Foi dele mas deu fé
ao agora meu José…
nome em muitas bocas
de meninos sem história
tempo de vida avô sim
só no baptismo do bebé

Sabem quem sou eu
José meu dele e teu…
espólio comum que veio
doutro tempo doutra geração
cortada cerce sem dó
aquela morreu outra cresceu

Ponto mais ponto ponto
pontos ligados num conto…
o velho geme dias avô
de horizonte vazio sem brilho
o futuro dele perdido
pelo meu reza devoto

São velhos os sábios
avôs de veros lábios…
seco o pranto dos olhos
no limiar do abismo nu
vou só sem ele pelo caminho
da infância de câmbios

Daqui dacolá eis
homens regras leis…
a pluma caída esbranquiçada
da precoce velhice cheia de dias
ais simulacros de sonhos perdidos
vivo d’arquivos de inúteis papéis

Eu sem colo sem peito
José inerte em alvo leito…
vaga imagem de barbas cinza
que cobrem o gasto rosto
dele avô que trago comigo
na alma não é tique nem trejeito

Tempo de viver
tempo de sofrer…
ouço novos indefinidos sons
que abafam ecos doutras angústias
na alma cinzelando um nome
dele meu que não deixei morrer

Tempo de noite cerrada
tempo de luz novel alvorada…
petiz que vem lesta ao meu devir
anuncia ventos finais de amanhã
não ais que ais de morrer vou dar
sim vou dar estando ela criada

Viver sim quero viver
não não quero morrer…
outro José que me deu nome
partiu cedo sem tempo de viver
tempo p’ra noutro tempo o meu
dizer José sou avô sem esmorecer

Para viver e morrer
um tempo deve haver…
esvaio os grãos da vida lentos
na ampulheta que marca a hora
travo o passo emperro a marcha
do tempo que quero viver.

Sem tempo p’ra chorar
pouco tempo p’ra recordar…
ganhei um mundo novo aberto
ao sonho do tempo do caos libertado
chorar recordar um nome presente
melhor quero viver para amar

É tempo de esperança consegui
tempo tempo tempo venci…
miro tão belo presente José estou
renascido como no sonho que foi teu
tempo de viver ser avô não morrer
fruir o tempo da minha neta Déborah Sophie.
.

Sem comentários:

Enviar um comentário