domingo, 15 de agosto de 2010

Outros cânticos...

Nas férias perdemos um bocado o contacto com a nossa comunidade eclesial: mudamos de região, reduzem-se as actividades, recebemos familiares, damos tempo ao lazer, à descontracção… Em boa verdade, embora estejamos atados aos nossos hábitos do ano inteiro, precisamos de «roda livre» para andar por aí, ver as pessoas, como se comportam, o que pensam, o que querem amanhã, falar com elas (é mais fácil, quando estão soltas de compromissos, ouvirem-nos, comunicarem connosco) e estar com elas.
No regresso, desejamos sempre que esteja tudo no lugar, que não tenha morrido ninguém (Ah! Se nasceram meninos ou meninas, entretanto, melhor porque essa, parece, nos tempos que correm, ser a forma das comunidades crescerem…), que o «nosso» lugar não esteja ocupado, que o líder continue inspirado, que os cantores «puxem» pelos nossos pulmões, que nos façam estar «horas e horas» de pé (pois… cantar sentado, onde é que já se viu!?), que se programem mil e uma actividades, que se fale na festa do Natal… sei lá! Que tudo esteja conforme o ritual dos dias do nosso contentamento, isto é, da nossa exemplar rotina.
Pois é! Tenho cada vez mais a percepção de que esta «normalidade» anula o crescimento espiritual, o sentido de serviço comunitário, uns aos outros, a vontade de projectar, de evoluir, de alcançar novos patamares. É bom que aconteça algo que nos estimule… depois das férias, que nos tire do marasmo (interior, nosso), que nos (me) catapulte para o alto donde vem sempre melhor provisão. Aconteceu-me isso hoje! Como? Ouvi um cântico antigo, a solo, sem ensaio, por uma anciã (meia idade, pois agora podemos expectar chegar aos 90 anos!) que estava de passagem (pois… estava de visita à família e foi ao culto…). Ah! Ainda se mantêm na comunidade aspectos do culto que são congregacionais: uns têm salmos, outros têm cânticos… Ela tinha um cântico e partilhou-o. Que choque! Porquê? A letra tinha poesia, os versos entendiam-se, a mensagem era directa, clara, plausível! Mas era um cântico antigo, como «antiga» era cantora, a letra, a inspiração do poeta, a mensagem (sim, nas palavras estava toda emoção do percurso de três homens que se dirigiam a Emaús e em dois deles ardia o coração com a emoção da Palavra do Outro…)
Foi pena ter acontecido mesmo na hora da despedida, ao encerrar da festa. Gostava de ter partilhado com os demais aquela emoção pessoal, o prazer de levar comigo um poema, uma canção, uma mensagem. É verdade que não memorizei a letra, nem a música, mas sinto-as em mim, dentro de mim. Melhor: tenho a certeza que o culto congregacional pode emprestar-nos esta força nova que quebra a rotina e podemos trazer para casa – a força dos cânticos com poesia, mensagem, música. O que infelizmente não acontece, quase sempre, com os cânticos da nossa rotina: mal escritos, muito, muito mal traduzidos ou adaptados, sem poesia, sem musicalidade, quase sempre à base de ocas e vãs repetições!

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