domingo, 8 de agosto de 2010

O Fim dos Livros

Vai ser publicado a obra de Octave Uzanne, O FIM DOS LIVROS.
Numa resenha da obra, no Expresso de 7 de Agosto de 2010, José Mário Silva escreveu: Após uma conferência científica na londrina Royal Society, meia dúzia de eruditos prolongaram a noite com uma tertúlia especulativa em que tentaram antecipar o futuro. (…) Mas só quando perguntaram ao narrador do texto, um bibliófilo assumido, “o que acontecerá às letras, aos literatos e aos livros daqui a cem anos” é que a sala estremece de espanto e alguma indignação. Isto porque o orador prevê que os livros impressos desaparecerão de vez e a “invenção de Gutenberg” cairá “em desuso como intérprete das nossas produções intelectuais”. Nada que alguns gurus não afirmem hoje, fascinados com Kindles e iPads. Acontece que este "O Fim dos Livros" foi escrito em 1895. Sim, 1895, final do Século XIX. Ou seja, o futuro que aqui se imagina, com um triste apocalipse da tipografia, é o nosso presente. E as previsões de Uzanne, como as de muitas outras cassandras, falham redondamente. Não só os livros impressos resistiram à tecnologia da época (o fonógrafo de Edison) como a todas as tecnologias que vieram depois, incluindo os ameaçadores e.books de que tanto se fala agora. No início do século XXII ainda havemos de ler, em papel, a história completa de todas estas mortes anunciadas e sempre desmentidas.
Arrepia-me este tipo de profecias acerca do desaparecimento do livro em papel, que podemos usar a cada instante bastando, para tanto, estender o braço e retirá-lo da estante… Mais, tirar um exemplar da primeira, da segunda, da terceira, sei lá de quantas edições! E poder comparar, especialmente aquelas que são sujeitas a revisões do autor (agora está na moda reimprimir livros e depois dizer que se fizeram… 10, 12, 15 edições!), normalmente acrescentando, corrigindo, esclarecendo.
Só o livro em papel permite esta facilidade. Talvez as gerações do século vindouro, já sem olfacto para detectar o cheiro a tinta fresca, dispensem os livros em papel… Será mau, mas não se pode contrariar a realidade das coisas. Espero eu, que esses homens de mulheres levem um desses aparelhos sofisticados para a cabeceira da cama para ler um Salmo antes de adormecer… (agora temos a nossa Bíblia de cabeceira que permite fazê-lo com todas a comodidade…).
Se em 100 anos não se cumpriu a profecia (o fim dos livros) permito-me descansar que não se cumprirá tão depressa e talvez ainda tenha oportunidade de ensinar aos meus netos a ler sem recurso a e-book! Espero que não os seduzam de modo definitivo para a leitura nesses aparelhos… doutro modo não poderei dar essa utilidade a tantas centenas de livros que li e…conservo!
Em verdade, este é um assunto que interfere na vida dos que têm hábitos de leitura e são manares dos livros impressos em papel. Há uma nova geração que já não lê em papel. Há algum tempo um amigo, que reside nos USA, dizia-me que «lia» ouvindo os livros em suporte áudio enquanto viajava… e que a filha lia apenas no portátil! Mesmo as tarefas académicas quase não implicavam leitura em papel… Provavelmente, em Portugal, com o afamado portátil Magalhães, dentro dalgum tempo não haverá leitores para os livros que se publicam nem para os que as Bibliotecas guardaram durante milénios…
Há um mês, aproximadamente, no Sul de França, à hora do pequeno-almoço num hotel, um casal lia, cada um com o seu e-book! E tinham ar de que vivia já na reforma… São sinais de que o panorama está a mudar… Espero que a Bíblia, pelo menos, continue disponível… em papel!
José Manuel Martins

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