terça-feira, 1 de junho de 2010

Não vetando a Lei que «permite o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo», CAVACO SILVA «transformou» os «maridos» e «mulheres» em «cônjuges»…

À partida, não será assunto para este entre laços d´ontem, mas – estou convencido disso – os que me lêem, em grande parte, serão também culturalmente ecléticos, social e religiosamente liberais!
Não é que me mereçam menos respeito, mas os homens e as mulheres que querem casar entre si (homem com homem, mulher com mulher) são uns imitadores: querem aquilo que só um homem e uma mulher podem celebrar: o casamento! Sinceramente, como é reconhecido, no meio daqueles que se assumem homossexuais, há gente inteligente, capaz de imaginar soluções de vivência a dois, com vínculo, sem necessidade de imitar aquilo que um homem e uma mulher sempre fizeram desde os primórdios da civilização humana (o exemplo primeiro vem do Éden – para os que aceitam esse passado revelado – onde, para a união, foi criado um homem e uma… mulher!): casar!
Mas fizeram uma «guerra» sem tréguas, sendo «diferentes», para se unirem pelo vínculo do casamento! Mas não quiseram que lhes chamassem marido e mulher, como é próprio entre membros dessa união.
Ontem, 31 de Maio de 2010, às portas do centenário da república, veio à luz do dia a Lei que «permite o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo». Agora (será assim até quando?) o «casamento é o contrato celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida...» (antes, dizia-se: «pessoas de sexo diferente»). Onde na Lei se falava de mulher e homem a propósito do casamento passou a falar-se de «cônjuges». Assim teremos: «O Miquelino, ontem, contraiu uma dívida e não precisou do consentimento do Onileuqim, seu cônjuge»; «A Francelina queria morar em Alguidares de Baixo mas o seu cônjuge, a Anilecnarf, conhecida no mundo do espectáculo, prefere continuar a viver na capital…onde sempre foram felizes!»
A lei em si não me era desconhecida (tinha visto o texto algures, quiçá quando foi para o Tribunal Constitucional), mas, diante dela, em letra de forma, no Diário da República, confesso que dei comigo numa frustração enorme e a dissertar desconexo: então não é que agora uns me vão apresentar o marido, a mulher e outros... simplesmente o cônjuge!? É que acabou essa «coisa» bonita dos maridos dizerem «eis aqui a minha esposa» e elas dizerem «eis aqui o meu marido»... Cônjuge, para trás, cônjuge para a frente... Enfim a universalização do cônjuge para não discriminar ninguém pois, já vimos, os que queriam casar, não queria formar uniões de marido e mulher...
Isto tudo, depois de 35 anos de casamento como deve ser (entre um homem e uma mulher...), não vai ser para mim fácil! E não vai ser nada fácil quando me entrar pelo escritório dentro um cavalheiro, honrado, de bom nome, coberto de reconhecimento social, dizendo: «o meu cônjuge pôs-me os c* , quero divorciar-me...», enquanto chora baba e ranho por tamanha desdita... Ou então ela: «O meu cônjuge, mulher bonita, nem imagina, fugiu com a padeira, uma matrona com cara de pau... Não merecia tamanha deslealdade! É uma vadia… quero o divórcio!».
Enfim, o que me ataranta a cabeçorra, confusa, muito confusa (mas não desprevenida…) com estes sinais dos tempos, é que, em 1985, eu estive na Figueira da Foz... e dei o meu voto em representação de centenas de pessoas ao homem que agora, jurando por todas as coisas sagradas que há no mundo conhecido e até no mundo para além do que está à frente dos nossos olhos... - que não conhece outro casamento que não seja aquele que une um homem e uma mulher, pragmaticamente, disse «sim» ao casamento entre duas pessoas que tão-só querem ser entre elas cônjuges (o pior é que, na Lei, acabou-se com os maridos e mulheres, o que não deixa de ser um marco importante para o mandato de tão ilustre representante de «todos os portugueses» … vai ficar na história por isso, não pelo resto que fez a favor deles, os portugueses...) Agora só tenho o meu (voto) mas nunca mais lho dou, nem que ele se recandidate com a promessa de que, quando pragmaticamente for possível, vai tudo voltar a ser como dantes...
Tenho para mim que os Homens se perpetuam por fazerem o que devem, não o que lhes dá jeito fazerem. Que importância tem o valor do défice, o montante da dívida externa, a queda do valor da moeda única, a depreciação do valor da dívida soberana quando se decide que a Humanidade regrida, que se anulem valores, símbolos, matrizes que, espiritualmente, nos identificam, que fazem de nós povo? Um Homem de valores não cede aos interesses de ocasião nem «vende» a assinatura por um prato de ilusão (afinal, não é de ilusão que falamos quando equacionamos, tacticamente, manter o poder abdicando daquilo em que acreditamos?)
Não posso acreditar em quem receia as consequências dos seus gestos de consciência. Os convictos largam até o poder para não assumirem o papel de…pragmáticos!
Só mais duas notas finais: quando, em público, o mais alto magistrado da Nação disser «a minha mulher» (como costuma dizer vezes sem conta…) vou mentalmente corrigi-lo: «o meu cônjuge, senhor presidente…»; quando me puserem um papel na mão querendo saber o meu estado civil, vou assinalar «casado com uma mulher».
José Manuel Martins

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