quinta-feira, 17 de junho de 2010

Não deixe de ir ao lançamento dum livro…

Ontem, dia 16 de Junho, os cristãos católicos estiveram em acção sem rituais ou paramentos! Fora dos templos, dos grandes santuários, longe das multidões… Com o evangelho «na ponta da língua» e as mensagens do sumo pontífice na mão, prontas para chegar a milhares de destinatários…
Parece contraditório, mas não é.
A editora católica Paulos decidiu dar à estampa os textos das homílias proferidas em Portugal por Bento XVI, na sua recente visita. Uma aposta editorial de quem se dedica a divulgar a doutrina católica romana. Nada contra. Ao contrário: quanto mais iniciativas editoriais deste género, melhor. São sempre enriquecedoras as reflexões de Bento XVI, ainda que se discorde da substância teológica dalgumas delas, dum ponto de vista mais biblicista (sem tradição da igreja, sem dogmas…).
A iniciativa papal teve repercussão mundial e foi preparada ao pormenor. No dizer do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, que foi quem contextualizou a obra, a visita tinha objectivos nacionais (visava alentar a Igreja nacional, através do «revigoramento», sempre necessário, do culto mariano) mas também internacionais (aproveitando, especialmente, a tribuna mediática para falar ao mundo sobre temas e valores que, definitivamente, obscurecessem os holofotes apontados ao crimes de pedofilia cometidos por clérigos católicos em muitas partes do globo…), objectivos que, imediatamente, foram conseguidos.
O que ficou evidente foram duas coisas interessantes, que todos sabemos mas não ouvimos muitas vezes confessar em público: os católicos, no sentido da hierarquia da igreja, têm uma influência muito grande na sociedade portuguesa, quer pelos meios comunicação próprios (Rádio Renascença, por exemplo), quer pela «mobilização» dos que são de todos (RTP, por exemplo), quer, ainda, pela «influência» que desenvolvem nos que são do Capital privado (TVI, por exemplo) através do critério da «maioria sociológica» na sociedade portuguesa (afinal, o povo é católico desde a fundação da nacionalidade…); os leigos católicos, aqueles que se movimentam profissionalmente em lugares de relevo, estão muito disponíveis para desempenhar o papel de «veículo» da mensagem que é necessário levar para fora (no caso, aquela que a figura cimeira da igreja queria deixar em Portugal e destinar ao Mundo…).
É verdade que o Prof. Rebelo de Sousa, sempre fluente, insinuante, comprometido com a fé, várias vezes anotou que estava a «falar em família» e que a prefaciadora da obra, a jornalista Fátima Campos Ferreira, se tivesse declarado «iluminada» pela presença de tão grata figura (Bento XVI); como também é verdade que ambos queriam dizer bem da obra (a editora não cometeria o erro de chamar a prefaciar e a apresentar quem não estivesse sintonizado com o objectivo de propalar a mensagem papal…). Foi talvez por isso que ambos disseram que «colaboraram» num plano para erigir um palco mediático que chegasse tão alto quanto fosse possível… Não interessava se a antena (da RTP, claro…) ia estar horas a fio, em prejuízo do restante «serviço público», ocupada com as celebrações… O que importava era dar espaço para que o digníssimo visitante se mostrasse, falasse, comunicasse … afinal, para que, com a sua palavra, «cavasse» um «oásis» no meio da crise nacional…
Daí que tudo começou a ser preparado ao milímetro com os interlocutores da hierarquia da igreja, contando com a influência dos leigos, meses antes da visita, até ao pontapé de saída para a grande maré televisiva, que foi a cobertura televisiva dias a fio: o programa Prós e Contras! Aí está por que Fátima Campos Ferreira foi convidada pela editora (diria: pela hierarquia católica…) para prefaciar o livro que aponta o caminho aberto deixado pelo sumo pontífice: profissional, influente, leiga, certamente, pôs-se ao serviço da causa.
Achei interessante ouvir esses testemunhos na apresentação dum livro!
O que se apreende nestes momentos é, muitas vezes, a confirmação do que apenas intuímos (sabendo, no íntimo, que estamos a ver bem o filme…). Em família soltamo-nos, dizemos tudo para nos estimularmos… E nesse «encontro familiar» que grande discípulo se mostrou o Prof. Rebelo de Sousa, chegando a empolgar a assistência no seu apelo para seguir… o Papa! Que grande «pregadora» se mostrou Fátima Campos Ferreira, testemunhando que bebeu no «oásis» que o Papa cavou, e como isso lhe deu força para estar em directo, horas sem fim, e passar dias quase sem dormir…
Ainda vou comprar o livro para manter a lembrança desse evento (para ler também, que sou apreciador do que escreve Bento XVI, especialmente Joseph Ratzinger).
Não tanto para pôr em prática aquilo que, por imagem, foi enunciado: agora que o Papa foi embora (mas não foi, porque a mensagem ficou…em livro!), «virou as costas», devemos «ir no encalço dele», porque ele vai à frente, é o guia, à semelhança do que aconteceu no Sinai, quando Moisés quis ver a face de Deus e Ele só lhe deu a ver as «costas»: também queria que Moisés e o povo o seguissem…
José Manuel Martins
PS: Este apontamento só tem um objectivo: Sempre que soubermos que vai ser apresentado um livro, compareçamos!

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