domingo, 30 de agosto de 2009

A ver se volta a inspiração

Regressei ao ginásio!

Não, não foi para praticar desporto, nem para fazer preparação física (o corpo tem que esperar até Outubro, pelos tempos outonais, para se dar ao manifesto, suar as estopinhas, que também é necessário para impedir que cresça o volume abdominal e para fazer com que aumente o volume muscular…).
Regressei para fazer tratamento de fisioterapia. Por recomendação médica pois, nestas maleitas dolorosas que, inopinadamente, vêm perturbar o nosso quotidiano indolor, não devemos facilitar dando guarida às opiniões de simples «curiosos» ou doutros «enfermos» que tiveram igual problema e curaram-se às mãos milagrosas dum qualquer mestre massagista…
Não é que ignore a existência de tão virtuosas criaturas, masculinas ou femininas, capazes de restituir o bem-estar a um qualquer «desenganado dos médicos» ou a quem não tenha senão o recurso das suas mesinhas e práticas ancestrais. Posso dizer, por experiência própria, ocorrida há cerca de 48 anos, que essas «medicinas alternativas», especialmente em matéria de curar dores musculares, ósseas, ou até em matéria de consertar fracturas, dão respostas eficientes e… duradouras!
De facto, andava eu na 4ª classe (não chumbando, nesse tempo o aluno desse ano teria feito ou faria 11 anos), um dia fiz dum ramo de árvore baloiço e… pumba! Partiu-se o ramo da árvore e o pulso do braço direito. Claro, não podia executar com perfeição as tarefas escolares, mas o ano também estava no fim. Fiz exame (Ah! Por essa altura os meninos e meninas faziam exame escrito e oral e só então concluíam a formação escolar obrigatória – como o mundo actual é outro: acabou o Presidente da República, neste ano da graça de 2009, em plenas férias de Agosto, de promulgar o diploma que obriga os meninos e meninas portugueses a andarem na escola 12 anos para «saírem» do sistema de ensino com a escolaridade obrigatória! – e passei, graças a Deus, mesmo com o braço direito ao peito; o que foi preciso escrever, escrevi fazendo-me canhoto, sendo destro. Não fui exímio, mas cumpri.
E não tinha dores. Aliás, só tive dores até chegar às mãos do «endireita». Dei com um de aspecto esquálido, mas gentil, habituado a lidar com crianças de braços e pernas partidas. Assentado numa «marquesa», esperei, amedrontado, que me fizesse «o mal», ou seja, que me deitasse as ósseas manápulas e me pusesse o pulso a funcionar de novo. Fê-lo mais com jeito do que com força. Nem doeu, lembro-me como se fosse hoje. Depois protegeu o braço com umas talas feitas de canas espalmadas (eram certamente dum caule duma planta de milho, já seco e aberto ao meio), envolveu-as com uma ligadura e pôs-me o braço ao peito. Pronto! Nada de gessos, de pomadas, de analgésicos, de quaisquer outros tratamentos. Saí dali com ordens para não tirar o braço do peito, não fazer esforços com ele e para voltar dentro de… 30 dias! Fiquei são que nem um pêro e nunca mais tive sequelas dessa queda que me deitou a mão para trás pelo punho partido.
Mas hoje não é assim. O senhor doutor na especialidade de medicina física e reabilitação, porque me doía um joelho (já não dói e estou, por isso, muito contente) – comprovou-o fazendo-me deitar na marquesa de barriga para o ar e para baixo e movimentando-me a perna, fazendo girá-la na articulação do joelho para ouvir «ais» e «uis» consoante o movimento implicava maior ou menor efeito doloroso.
Diagnóstico: pode ser uma lesão no menisco interno, mas isso não se pode ver a olho nu, pelo que é necessário fazer exame radiológico e se deste não resultar a causa que provoca a sensação dolorosa que o doente apresenta mando fazer uma ressonância magnética, que essa, sim, tirará quaisquer dúvidas, embora neste momento as não tenha, pelo que vou receitar este anti-inflamatório para tomar uma cápsula diária depois do almoço ou jantar, isto se o paciente não sofrer do estômago, como disse que não sofre, e uns tratamentos aqui no ginásio, que serão remédio santo se eu não estiver enganado no diagnóstico e não estou pois dos movimentos e das queixas respectivas logo me disse a muita experiência que eu tenho que isto é degenerescência do menisco que acontece a quem dá entorses à perna, o que não é o caso, como o paciente informou, ou a quem já andou muitos anos em cima do joelho, podendo dizer, para melhor esclarecer o doente que quer saber o que é isso da degenerescência do menisco, que afinal isto vai dando a quase todos consoante a idade vai avançando e o tipo de vida que cada um fez durante os anos, sendo certo que o doente andou na guerra no Ultramar e, como declarou, pelo menos durante dois anos calcorreou montes e vales atrás do IN, o que agora deve ter alguma influência no tipo de queixas que apresenta. Mas eu sou médico há já não sei quantos anos e posso por isso garantir que, tomados os remédios e feitos tratamento de laser, ultra-sons e massagens com esta pomada, a doença desaparece como chegou, repentinamente.
Bem… Acontecera algo semelhante há uns tempos atrás. Num ombro. Doença de estar ao computador, como estou agora, durante muito tempo, com uma postura incorrecta. E fiz os tratamentos que, em grande parte, resultaram. Ainda ficou para recordação uma dorzinha dependendo do tempo em que esteja a escrever ao computador (por caso agora está a apoquentar-me pelo que não poderei escrevinhar muito mais sem fazer um longo interregno para descansar…). E durante os tratamentos (com muito tempo de espera no hall, com muitas pessoas chegadas antes de mim… agora por causa da dita A (H1N1) nem convém estar à espera porque algum doente da perna pode trazer o vírus dela e espirrar…) fui ouvindo estórias pessoais interessantes, que ouvia sem querer, mas ouvia e registava ao ponto de me ter inspirado numa que ouvia, por episódios, que se referia a África, a qual me inspirou para escrever uma «novela» que deixei ficar onde agora está, depois de mais de 70 páginas escritas, por me ter finado a inspiração (o que coincidiu com o fim dos tratamentos…). Foi para voltar a dita inspiração que me deu a dor no joelho e o doutor me mandou para o ginásio fazer tratamentos e ouvir o que os doentes contam uns aos outros, conhecidos ou não, enquanto esperam pela sua vez? Se foi, vou fazê-los todos e ficar com os ouvidos abertos a ver se acabo pelo menos a história que deixei naquele estado com personagens e tudo (não escrevi ainda o epílogo mas já o tenho na cabeça, só que me falta a dita inspiração que se finou quando acabaram os tratamentos…)

Sem comentários:

Enviar um comentário