sexta-feira, 1 de maio de 2009

A(s) memória (s) uns dos outros...

O meu livro entre laços d'Ontem pode comparar-se à paleta do pintor: estão lá as cores, aos montículos, que, por acção do pincel ou da espátulas, se vão misturando a esmo, sem nexo, como anteprojecto do que virá a ser o colorido da obra! Sim, ainda estão em bruto as imagens, ainda não se afirmaram na versão que o futuro guardará... É um esboço porque as memórias, os factos d'ontem, as vivências podem mostrar-nos outros matizes. Assim tenhamos a vontade do pintor que, no vaivém do pincel, transforma a tela enquanto mistura as cores. Estamos sempre a olhar para trás, mas o objecto da acção é o futuro: o que está na paleta é o «antes» do futuro, que está representado na tela, na obra feita.

Nunca está concluída a obra de representar o passado. A razão parece-nos simples: não há presente sem passado! Estamos sempre a olhar para trás para lembrar a ocasião em que o pé pisou em ramo verde, em que a perna se atolou por distracção, em que o coração foi perfurado pelo punhal da traição, em que duvidamos de quem nos falou sempre a verdade, em que faltamos à palavra dada, em que desmoronamos o muro protector que nos acolhia dos temporais; olhamos porque não desejamos repetir o gesto, sofrer o mesmo dano, perder um outro amigo, incumprir outro compromisso, ficar à mercê novamente das intempéries. Ou seja, revisitamos o passado para acautelar o progresso e as vantagens que conquistamos; revisitá-mo-lo para manter a eficiência que trouxe à cosmovisão que baliza o presente e projecta o amanhã.

É a memória que temos do outro que aproxima ou repele. Só as que referenciamos positivamente religam o passado e o presente. Se são positivas na memória, tecemo-las e deitamo-nos nelas. As memórias positivas são o seguro de vida do futuro. Se falharem os prognósticos acerca do mérito deste ou daquele relacionamento não foram os alicerces que se afundaram, foram os tijolos que não encaixaram! O passado deu-nos a prova de que podemos construir sem medo de queda ou ruína desde que, sobre os fundamentos, se construa de acordo com o plano que antes deu certo. Podemos inovar, modernizar, optimizar mas nunca introduzir na execução da obra as técnicas com que se executaram as relações falidas, que a memória registou e às quais não augura futuro!

São memórias positivas as que nos reúnem periodicamente para revisitar os átrios onde experimentámos o que queremos para amanhã! Vamos ao passado buscar a substância do futuro, a massa que ligará cada nova experiência do novo, dos novos sonhos, da esperança, das muitas esperanças de que se faz um dia feliz!

Sem comentários:

Enviar um comentário