Há não muito tempo uma amiga nossa foi acometida de doença grave. É ainda jovem. Diagnosticaram-lhe cancro da mama. Num exame de rotina, sem queixas prévias, tinha soado o alarme. O mundo desabou. Veio a cirurgia, a necessidade de quimioterapia, os desfalecimentos, o desânimo...
Hoje encontrámo-la e tomámos um café juntos... conversámos.
Não tem relação, mas tinha acordado, pela manhã, ansioso: acabara de sonhar com um amigo que me dizia estar «tomado pelo mal, que se espalhara pelo corpo todo». O semblante dele, porém, era sereno e parecia respirar saúde; no entanto, eu só vi morte à minha volta e falei da sucessão de gerações, de que nascemos para morrer...
Nem uma palavra de esperança! Fiquei sem palavras apropriadas... Era sonho, mas, na realidade, quase sempre acontece assim: ficamos sem palavras (úteis, encorajadoras, de esperança...) para consolar quem «está possuído pelo mal».
Na realidade, esse amigo tem existência real, teve cancro, foi operado, aparenta estar bem... Mas nós receámos o reaparecimento do mal.´É preciso tempo para concluir o processo e mais tempo ainda para retomar confiança, voltar a sonhar para lá do minuto que corre...
Se estivermos atentos, não escaparemos do confronto com essa realidade para a qual nos pedirão atenção, solidariedade, ajuda, às vezes só palavras... palavras apropriadas, que façam sentido, contributo para estimular a vida, a confiança, a esperança, o sonho para lá do instante...
Naquela conversa ao café as coisas saíram-me muito melhor do que no sonho. Porquê?
Eu tinha lido «Cancro da Mama, uma viagem de esperança», de Yvonne Ortega e a minha mulher tinha-lhe oferecido esse livro! Falamos todos dos termos dessa «viagem de esperança» e tudo foi mais fácil... Dizer o que não experimentámos é teoria; ter as palavras do testemunho de quem sabe e experimentou (viveu e sobreviveu...) é outra coisa!
Soube, depois, que a minha mulher lhe oferecera o livro porque ela própria precisava de quem falasse por ela, que tivesses palavras para ajudar a amiga.
Há muitos outros recursos para colmatar a nossa impreparação para ser alento, encorajamento, estímulo.
A experiência de Yvonne Ortega é um desses recursos.
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