terça-feira, 7 de março de 2017

CEM ANOS - RECORDANDO JOÃO SEQUEIRA HIPÓLITO


CEM ANOS
RECORDANDO JOÃO SEQUEIRA HIPÓLITO

Não é a primeira vez que recordamos João Sequeira Hipólito! Fizemo-lo, neste blogue, em 1915 e 1916. Remetemos os leitores para o que então escrevemos.
Hoje, 7 de Março, se estivesse entre nós, faria 100 anos. Partiu para morar com o seu Senhor fará, daqui a pouco, 38 anos.
Parece que foi ontem, mas a memória é curta e o seu percurso ministerial já só é – constatamos nós - reconhecido por uns quantos… A história, quando ela se fizer, provavelmente, não transmitirá às novas gerações o forte impacto do seu múnus, da sua fé, da sua persistência, da sua convicção, da sua ousadia, do seu querer temerário, tantas vezes… É uma pena que não se relembre, amiúde, o seu percurso, o seu exemplo, a inspiração que foi, que ainda pode ser… É pena que as memórias que lhe plantaram «em pedra» também se desliguem da realidade, se percam na voracidade dos novos tempos, das novas ideias, dos novos caminhos, dos novos ideais… É pena que o seu legado, sub-repticiamente, seja renegado, malvisto, espezinhado…
A revista Novas de Alegria, que dirigiu durante cerca de 9 anos, e de que antes, nos seus primórdios, fora administrador dedicado, certamente, a propósito deste centenário do seu nascimento, erguer-lhe-á um memorial, em palavras, de reconhecimento pelo que ele foi nas mãos de Deus, instrumento muito usado durante mais de 40 anos… (Admito que esse tipo de efemérides já não diga muito aos leitores da Revista, mas trata-se do centenário de alguém que «fundou» este projecto.)
Talvez, por reacção, ainda se venha a falar mais, nos próximos tempos, do que ele representou. Serão, talvez, os irmãos na fé que não desistiram de pugnar pelos mesmos valores básicos que ele ensinou, serão, ainda, alguns dos seus discípulos que, para serem politicamente correctos, dirão umas palavras de circunstância… Da nossa parte, com os parcos recursos de que dispomos, queremos muito relembrá-lo, em nosso proveito e de quem nos seguir, deixando aqui este modesto apontamento, quiçá, no futuro, de modo mais desenvolvido se, para tanto, não nos faltar o ânimo! Mesmo que, para isso, ainda tenhamos de trabalhar meses a fio... Mas não queremos para nós nenhum protagonismo. Tão-só tentar colmatar a lacuna que os (mais) obrigados a lembrá-lo mantiverem…
É com emoção que lembramos, hoje, que, se estivesse vivo, João Sequeira Hipólito faria 100 anos!
Durante os últimos 38 anos muito do que erigiu, convictamente, está em destroços, não é reconhecível, parece que o vendaval modernista, que anteviu, lhe arrancou o ensino ministrado pela raiz… Porquê? Ainda haveremos de sabê-lo…

7 de Março de 2017
José Manuel Martins

PS:Deixo aos leitores mais pacientes (e interessados…) umas notas que bem poderão ser tópicos de um qualquer livro sobre o percurso de João Sequeira Hipólito como líder do Movimento Pentecostal em Portugal.
            Escatologia…
          João Hipólito interessava-se pelo que ia ocorrendo pelo mundo e procurava integrar os eventos mais relevantes do pós-guerra (II Grande Guerra) numa perspectiva escatológica, recordando o que ainda havia pouco tempo acontecera: a exibição trágica do poder atómico, que foi usado como último argumento para vergar o Imperador Japonês e o seu povo em guerra. Estava patente na sua análise essa preocupação de ler os sinais do mundo e perspectivar o futuro, qual profeta. Eram questões muito vívidas nos púlpitos pentecostais: as calamidades que antecedem a segunda vinda de Cristo, nessa missão última de retirar os seus da derrocada da humanidade e respectivas vivências e sequelas. 
           Catastrofismo…
       As cenas de horror, as cidades destruídas, o contexto «a ferro e fogo», a mortandade e a debandada davam certezas aos catastrofistas e força aos anunciadores do fim do mundo. Tanto mais «que não existe qualquer defesa militar contra a bomba atómica, que qualquer nação pode vir a fabricá-la a um custo muito reduzido, o que poderá levar a estrutura e ordem social à ruína e à destruição da nossa civilização». E, ainda, «não poucos têm pensado que, no futuro, o homem volte aos tempos das cavernas ou que pela desintegração dos átomos o globo fique num caos ou deixe de existir.» 
A verdade…
A realidade que a história da Igreja mostra é que a unidade se garante na diversidade pois, apesar das particularidades de cada uma das igrejas autónomas, como o foram desde o princípio, «todos são do Senhor». Na verdade, «todos os movimentos evangélicos, seja qual for o nome que tenham, são fruto do mesmo reavivamento espiritual que tem aparecido em várias épocas e cada um deles revela uma coisa nova a respeito de Deus e do seu plano, pelo que nenhuma dessas igrejas, no sentido exclusivista, poderá afirmar, sem cair no erro, que só ela está na Verdade, mas em sentido geral e bíblico todas estão na Verdade. Jesus é a Verdade!»
            O próximo…
São assim os religiosos e moralistas de todos os tempos, que pregam a caridade mas não a praticam, que exercem beneficência por competição, a qual não custa renúncia ou sacrifício. A nós, cristãos, não nos é lícito passar por alto os sofrimentos da humanidade; é nosso dever e privilégio amar o nosso semelhante ainda quando ele seja um inimigo. Ninguém que se diga cristão verdadeiro pode deixar de realizar o que o Senhor Jesus Cristo fez ou o que Ele faria em condições idênticas. Deixemos os prelados com os seus acólitos a mãos com os grandes problemas da religião, da ética, da moral; porém, nós desçamos abaixo dos nossos interesses, esqueçamos por um pouco os nossos quefazeres e repartamos das provisões que Deus nos deu com o nosso próximo, seja ele amigo ou inimigo.»
            A Igreja de Deus…
O assunto, porém, arrastar-se-ia por muito mais tempo e esse era o preço que pagavam os pentecostais por serem tão pro-activos na pregação do Evangelho Total, que incluía também a cura divina e, especialmente, o baptismo com o Espírito Santo. Tinha razão João Sequeira Hipólito ao expressar o pensamento dos pentecostais acerca do que consideravam ser e «A Igreja de Deus». 
            Denominacionalismo...
Faltava um esclarecimento final, dirigido aos demais evangélicos, que se referia à organização dos pentecostais. Na verdade, sabe-se hoje, a posição do Movimento, que João Sequeira Hipólito sustentava, na fogosidade dos seus «verdes anos» e ciente de que a grande preocupação devia ser a pregação do «evangelho do Cristo vivo, evangelho total, evangelho dinâmico, puro e integral», que, como Jesus, é o mesmo ontem, hoje e eternamente», não era «estrutural», antes reacção à conjuntura adversa pois não havia lugar para os pentecostais nas organizações já instituídas. Assim se compreende que a «Assembleia de Deus» ou a «Igreja de Deus», seja apenas um nome, uma identificação, não uma nova denominação à semelhança dos Baptistas, dos Metodistas, dos Lusitanos, dos Presbiterianos… Os pentecostais não tinham uma liga de Igrejas Pentecostais nem pertenciam a uma Aliança de igrejas ou denominações, pois não encontravam «tais coisas nas Escrituras» nem as encontrava «nas igrejas primitivas pela mesma razão de não se encontrar no seio da família entre pai, mãe e filhos».
             Despertamento…
Na cidade de Portimão - silenciados, no essencial, os canhões da guerra que criaram grandes dificuldades à acção evangelística em Portugal, em especial por ser limitada e perigosa a deslocação dos missionários do Norte da Europa que davam apoio à liderança sueca em Portugal – por ocasião da realização da referida VII Convenção, João Sequeira Hipólito, com o Cine-Teatro a abarrotar, com cerca de 1200 pessoas, todas as que conseguiram entrar, ficando muitas de fora, foi um dos pregadores «que foram usados pelo Espírito Santo como instrumento condutor do poder de Deus.»
            A iminente vinda do Senhor…
O receio de João Sequeira Hipólito era não poder chegar a outros lugares, apesar de percorrer milhares de quilómetros de moto, para levar o Pão da Vida às almas famintas, uma vez que «a vinda do Senhor será muito em breve».
(Nota do autor: a questão da vinda do Senhor iminente era permanente nas reflexões dos obreiros dessa época. João Hipólito e Alfredo Machado sustentavam que essa vinda dar-se-ia estando eles vivos e seriam arrebatados com a Igreja do Senhor. Apesar disso, o ensino ministrado era num sentido «mais equilibrado»: A convicção da iminente vinda do Senhor era condição para viver alegre e intensamente o evangelho. Não para desprezar o quotidiano e «fixar» datas que a «antecipasse». Esta atitude poder levar os crentes, por um lado, a situações de extremismo fanático e a perderem a esperança quando essas datas se vencem… Por outro, os que têm tal convicção devem planear e trabalhar olhando para a frente, para um horizonte que pode estar longínquo, muito para além de várias gerações.)
             Arauto do Senhor…
Esta foi uma forma original de travar um combate muito exigente contra o modernismo dos jovens, muito mais sensíveis às mudanças de paradigma social. João Sequeira Hipólito partia do pressuposto de que a sua autoridade não era contestada, antes mereciam toda a consideração as palavras que dirigisse aos destinatários imaginários das suas exortações. Por isso, falaria como arauto do Senhor, como se as suas palavras fossem tomadas como palavra do Senhor. E preocupava-o o quê, quando pela primeira vez se dirigiu à Rosinha? Precisamente o impudor dos grandes decotes. A sedução do mundo, o corpo desnudado a pretexto do calor insuportável daquele Verão de …
«Rosa, tu és uma flor do jardim de Deus e a Ele deves agradar. As mangas muito curtas, os grandes decotes e os tecidos transparentes que descobrem o corpo-templo são modas infernais do “grande costureiro Satanás”. Tu não deves vestir pelo seu modelo, não deves andar pelo seu corte, porque todos quantos se têm feito clientes dele despiram há muito os vestidos da salvação.» De seguida, o suporte bíblico para a exortação: «As mulheres se ataviem em trajo honesto, com pudor e modéstia… como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus… o enfeite delas não seja exterior… na compostura de vestidos…. Mas no incorruptível trajo de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus, porque assim se adornavam também antigamente as santas mulheres de Deus…»
 A moda…
Contundente, intolerante em relação à moda como «infiltração mundana que põe em perigo tanto o culpado como a obra de Deus. Visava essencialmente as mulheres, em particular para avisar as mulheres pentecostais. Que «não precisavam negar-se como mães, não precisavam de se masculinizar, pintar-se ou despir-se para ser mulher.» Devia ser «boa e simples mulher do povo, mulher tão portuguesa» em vias de extinção. Devia ser mãe sem abdicar da beleza física, sem descurar a educação, sem baixar a viseira da moralidade, conseguindo isso pelo respeito e pela autoridade, pelo amor aos filhos e pelo exemplo no porte. «A tua moda é o teu lar, o teu marido, os teus filhos. O teu universo! Com trabalho, canseiras, renúncias, privações, mas limpo, honesto e sem máculas. Mulher que não te vendes por um trapo nem te despes como isca, que mandas ao Diabo os estrangeirismos e a depravação das modas.» «Como poderá uma crente sincera, humilde e fervorosa, que deseja ser o exemplo em tudo, apresentar-se no culto para “falar” com o Deus santo num trajo chamado “unissexo” que praticamente não diferencia o homem da mulher?»


Etc. Etc. Etc.

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