segunda-feira, 13 de junho de 2016

Caricato...

Está nisto o caricato: cada vez mais recursos públicos para a procriação medicamente assistida e, ao mesmo tempo, mais recursos públicos para pôr termo à gravidez não desejada!

Não se pode ignorar o problema da infertilidade e, por isso, no estádio actual do conhecimento cientifico, é natural que se invista no processo para facilitar «os filhos da ciência». As sociedades não sobrevivem sem renovação. A renovação depende da procriação eficiente. Se se somar às limitações auto-impostas por razões sociais e económicas ao número de filhos, é razoável que o problema da infertilidade ganhe, para além do drama pessoal, uma dimensão social acrescida. É normal, por isso, apoiar os casais inférteis, promovendo o que necessário for para que logrem alcançar essa realização tão natural: ser pais! Investir tanto quanto possível, numa proporção cada vez mais significativa, para que o esforço colectivo (dinheiro público) garanta, cada vez mais, o êxito do esforço material, emocional e físico dos que querem ser pais parece uma necessidade notória.

Pode ser exagerado estabelecer padrões tão altos no financiamento deste processo de procriação quando, no mundo, há tantas crianças a morrer por falta do mínimo para se alimentar ou sobreviver às doenças próprias da pobreza. Seria razoável permitir a mobilidade dessas crianças, de modo transparente e com envolvimento directo de instituições internacionais especializadas e supervisionadas. Enquanto isso não estiver no horizonte da Humanidade, a renovação das sociedades mais desenvolvidas terá de contar, também, com esses recursos científicos e financeiros, contribuindo para a realização completas das famílias inférteis. Parece-nos adequado.

No entanto, esbanjam-se recursos consideráveis em pôr termo a gravidezes de mulheres saudáveis, que alegam conjunturalmente dificuldades económicas, sociais e emocionais para dar à luz os seus filhos. Engravidaram, mas não querem os filhos. Pior: não querem sequer que eles nasçam! Não seria razoável, agora que tanto se fala de «barrigas de aluguer», que essas mulheres, com apoio e financiamento público, levassem até ao fim as suas gravidezes e entregassem os filhos para serem adoptados, à nascença, por casais inférteis? Seria ética, moral e socialmente aceitável que a sociedade fizesse todo o esforço necessário para concretizar o desejo dos casais inférteis. 

De certa maneira, aliviavam-se os custos do processo de procriação medicamente assistida (mais casais teriam possibilidade de se tornar pais adoptivos dum ser recém-nascido, depois de muitas tentativas falhadas) e também os da interrupção de gravidezes por se reduzir o número de intervenções médicas.

A sociedade seria muito mais decente, evitar-se-iam doenças psicológicas «eternas» das mães que abortam voluntariamente, dar-se-iam mais oportunidades aos casais inférteis de serem pais de crianças acabadas de nascer, garantir-se-ia melhor a renovação das sociedades envelhecidas.

Manter a situação actual é, no mínimo, caricato!

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