domingo, 22 de maio de 2016

ÁFRICA MINHA


Recordar é essencial no reforço do alento para viver melhor o presente. Acredito nisto. Em particular quando as recordações envolvem pessoas e situações que ainda estão a fazer o percurso da vida connosco. O que vivemos juntos, o que partilhámos, tudo o que fez parte e envolveu interesses e objectivos comuns pode ser recordado com vantagens para o reforço da amizade. Sei lá, o passado é decisivo como marco do que caminhámos, como caminhámos, com quem caminhámos, por que caminhámos, por que escolhemos andar pelos mesmos caminhos…
Recordar África com amigos com experiências comuns é salutar, envolve o coração, a alma, a vontade de manter relacionamentos antigos, que o tempo não esboroou…
Ontem, dia 21 de Maio de 2016, rejuvenesci para muitos dias… Sim, precisamos de rejuvenescer para envelhecer sem traumas, sem perda do sentido da vida, sem sentimentos de inutilidade, sem deixar que nos domine o cansaço dos dias… África Minha foi tão abrangente nas suas manifestações memorialistas que nos deixou matéria de reflexão suficiente para inebriar a nossa vontade de viver e construir o futuro – ou ajudando a construí-lo – que nos espera e o dos que não tiveram as nossas experiências. Recordar refrescou o hoje e entrelaçou experiências que vão frutificar amanhã!

Estão de parabéns os meus queridos amigos que tiveram a ideia, que prepararam as condições para uma noite memorável! África ficou mais nossa (em particular nas preocupações por aqueles que precisam do alento da nossa experiência…), as amizades ficaram mais vivas, a vontade de promover o sucesso das iniciativas em prol das pessoas que estão onde nós estivemos, que pertencem ao mundo que já foi nosso, que desfrutam da natureza que já nos abençoou, que levam por diante projectos que já acarinhámos, substancialmente aumentou…

África Minha pode ser a expressão do amor que não deixamos desvanecer…
 *
Para a minha participação na festa, tinha preparado os tópicos que eram mais ou menos assim:

«O passado nunca morre em nós. Fica sempre presente.»
Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa, Maio de 2016, Moçambique, Expresso Revista.
1.
Podíamos abordar o tema partindo da ideia de que a África foi sempre de todos, menos dos africanos.
A visão imperialista e colonialista dos Estados desenvolvidos e poderosos. Interessava o bem-bom de África: a fauna, a floresta, o lazer, a riqueza… Evidentemente um bem-bom associado a algum progresso…
2.
Podemos abordá-lo partindo duma experiência pessoal. É isso que me proponho em breves palavras.
A minha possessão é emocional, espiritual, humana.
África não me deve nada, devo muito do que sou a África. Sou em parte esse passado vivo, que está sempre presente por causa das memórias.
3.
A experiência no discurso sobre África é fundamental. Cada um à sua maneira tem uma parte de África em si: ou porque ela veio ter connosco (a presença dos escravos, a miscigenação das raças...) ou fomos ter com ela. Eu fui ter com África só sabendo que havia por lá uma terra para onde foi o meu pai trabalhar ou para onde iam os rapazes mais velhos servir Portugal…
4.
Qual é a minha possessão da África?
Apenas o que vivi e os que algumas pessoas que conheci viveram.
Espaço de liberdade (entrar no mar em Cascais para viajar 8, 9 ou mais dias era libertador…)
Espaço de sonhos (progresso social inclusivo…)
Espaço para a partilha espiritual (as missões como resposta moderna, capaz de abrir horizontes aos povos sem esperança…)
5.
O que escrevi em Zau-Évua, Recantos do Mundo, entre laços d’Ontem e José Pessoa. Missionário por vocação é uma parte do meu passado que não morreu e está presente.
Zau-Évua fala dos anos da guerra e da juventude perdida;
Recantos do Mundo do minúsculo esforço de uns quantos que serviram os povos e lhes levaram o Evangelho
Entre laços d’ontem para sublinhar momentos, situações e pessoas.
José Pessoa. Missionário por vocação para também em parte lembrar como em África com pouco se podia fazer tanto por quem não tinha quase nada…
6.
África Minha, África das minhas memórias, África que só eu conheço de modo tão singular:
Dela ficaram-me as recordações da terra e das gentes, da afectividade própria, das relações humanas mais inclusivas, dos esforços para vencer as barreiras das diferenças sociais, da cor da pele, da cultura, da religião…
Ficaram-me também as recordações do desenvolvimento humano que o Evangelho proporcionou aos povos. A promoção de valores contra-cultura mas de grande significado civilizacional: a Escola, o Casamento, a Fidelidade, os Direitos laborais, a Família…
Paga quem ama (um «conto» de entre laços d’Ontem): Jonas, as relações familiares, a Missão, o amor… Essa experiência diz quase tudo do que queria que tivesse acontecido (e que aconteça) na África Minha: um mundo de justiça, fidelidade, verdade, amor!

*
Naturalmente, esse seria o meu «discurso»… Disse quase o mesmo pondo o rascunho de lado e deixando o coração falar…

Bem-hajam quantos participaram!



1 comentário:

  1. Foi um grande prazer rever-te. Muito obrigado pelo teu apoio a este projecto. Abraço

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