Ontem, desfrutei do honroso convite para apresentar o meu livro José Pessoa. Missionário por vocação na Igreja Evangélica Assembleias de Deus Pentecostal de Lisboa, e ambiente intimista de Celebração. O texto que preparei deixo-o aqui para os meus amigos e leitores. É um naco da minha história pessoal que me diz que valeu a pena vivê-la. Na «comunicação», para não destoar muito do registo e ambiente da Celebração, servi-me dos tópicos e dissertei «quase» de improviso. Espero que o livro, agora, siga o seu curso e chegue às mãos de outros leitores.
*
1. Emoção do
momento.
Eu
sei bem o que Jesus ensinou, enquanto conversava com a mulher samaritana,
acerca dos locais de adoração, o que ainda hoje tem significado e faz todo o sentido:
o que importa é adorar o Pai em espírito e em verdade! Mas estar nesta Casa de
Oração traz à minha memória muitos momentos altos e de grande alcance
espiritual. Sempre relacionados com o engrandecimento do Reino de Deus que está
em mim e está em nós.
A
minha história pessoal inclui momentos marcantes em várias fases da vida:
Dezembro de 1965, quando pisei, pela primeira vez, o solo da cidade do Império
e fui acolhido por Alfredo R. Machado, então pastor da AD de Lisboa, Dezembro
de 1966, quando regressei de Luanda para frequentar o Curso do Instituto
Bíblico e me integrei na Igreja Local, durante 6 meses, e em 1975, no regresso
definitivo de Angola. Para além desses, entre muitos outros, refiro, a
propósito um outro momento importante: Estive aqui convosco em 2005 para vos
falar dum livro que tinha publicado em Dezembro de 2004, que tem por objectivo
subsidiar a realização da história das Assembleias de Deus em Portugal e numa
parte substancial ela trata da vida e obra de homens e mulheres que viram nascer
esta grande Assembleia de Deus de Lisboa e participaram na sua expansão no
território nacional, que ao tempo ia do Minho a Timor. Alguns, a quem o Senhor
deu muitos anos de vida, ainda estarão entre nós e lembrar-se-ão dos que são
referidos nessa obra e já estão com o Senhor, designadamente Beatriz da Ribeira
e os irmãos Manuel e Joaquim Cartaxo Martins. Lembro-me que, nesse dia, além da
apresentação do livro, dei testemunho do Evangelho e uma jovem senhora
participante do culto declarou-se pronta a seguir Jesus, aceitando-o como
Salvador e Senhor. Oxalá esteja fiel nos caminhos do Senhor!
Cerca
de 11 anos depois, estou de novo aqui convosco para apresentar um livro que há
muito deveria ter sido escrito. Talvez por quem melhor o podia ter feito. Esta
Igreja, que se reúne aqui e, ainda, em vários outros locais espalhados por
Lisboa e outras cidades, merece, para glória do Senhor, todos os encómios por,
ao longo de mais de oito décadas, ter feito pelos portugueses o que, em termos
colectivos, está por reconhecer. E é algo que sociologicamente tem de ser, um
dia, incluindo nas páginas da história do século vinte, em particular. Não é
tanto pela obra social em sentido estrito - que é muita - que essa referência
terá maior importância; é pela obra que o Senhor Jesus Cristo fez em dezenas de
milagres de portugueses que influenciaram depois dezenas e dezenas de milhares
de famílias que contribuíram decisivamente para conformar, em parte, a
sociedade contemporânea. O balanço far-se-á, mais tarde, quando o Senhor vier.
2. Inspiração e
exemplo. José Pessoa. Missionário por vocação.
Mas
propriamente o que quero é dar relevância àquele Ministro do Evangelho que está
no centro do livro que vos venho apresentar, de cuja leitura, estou certo,
tirarão maior proveito. Eu sei que, comummente, socorremo-nos mais facilmente
dos exemplos dos heróis da fé que nunca conhecemos, com quem nunca privámos,
cujas vidas pessoais são em grande parte desconhecidas; porém, temos notícia
bíblica do que os distinguiu na relação com Deus, com o povo escolhido, Israel,
ou com a Igreja do Senhor Jesus Cristo. De forma inspirada, o autor da Carta
aos Hebreus, para exemplificar a fé, referiu a vida de vários santos que
agradaram a Deus e cujo testemunho ainda hoje no inspira. Essa lista não está
fechada, nem completa. Admite, por isso, que, em cada momento, além desses, que
a Bíblia expressamente refere, nos
lembremos de quem lidou connosco de perto e nos inspirou a seguir o exemplo do
Senhor Jesus Cristo. Sei, por experiência, que é mais difícil. É que os
seus defeitos, as suas falhas, as suas fraquezas, muitas vezes, nos
desiludiram, nos interpelaram, nos fizeram reflectir...
Pois
é, os nossos irmãos, companheiros, amigos, que deram ombro connosco à Causa do
Senhor Jesus Cristo, não eram perfeitos. Umas vezes erraram, outras fizeram-nos
errar; umas vezes descreram, outras fizeram-nos descrer; umas vezes deram-nos a
mão, outras vezes desampararam-nos... Enfim, quase até ao infinito, podíamos
enumerar as situações em que não estiveram tão bem quanto a nossa necessidade
exigia... Mas isso, irmãos, é natural num processo de aperfeiçoamento contínuo!
O que importa realçar são os momentos em que se tornaram gigantes e nos
disseram: «Sede meus imitadores como em sou de Cristo!» O apóstolo Paulo não
reivindicava para si um estado de perfeição, de vida sem mácula: ele chamava os
salvos à imitação de Cristo, inspirando-se no seu próprio exemplo de vida em
que ele se parecia com Cristo!
Estou
convicto que o nosso crescimento pessoal e eclesial será mais sólido e frutuoso
se formos capazes de ver no nosso companheiro de caminhada na fé as virtudes do
Altíssimo para além ou apesar das falhas ou erros de percurso. A relação de
amor com o outro será assim mais facilitada e as leis do Reino de Deus muito
mais evidentes entre nós. A nossa religião será muito menos o cumprimento de
formalismos e muito mais o cuidado com a existência do outro, qualquer que ele
seja, em particular o que precisa de inspiração no meu testemunho para avançar
até ao alvo que está proposto e é a esperança comum: a casa do Pai!
3. Chamado no
tempo de Deus…
José
Pessoa foi chamado à Casa do Pai quando, aos nossos olhos, não era expectável.
Ainda se esperava muito do seu ministério e ele próprio estava disponível para
continuar a servir, tendo de pé um projecto de enorme relevância para a
Assembleia de Deus de Coimbra e suas áreas de missão nas Beiras. Muitas outras
actividades ministeriais viriam a seguir quando algumas nuvens desanuviassem e,
por fim, desaparecessem. Provavelmente, pelo que sabemos hoje, continuaria a
fazer pontes entre irmãos para que o Movimento Pentecostal não perdesse a sua
dinâmica própria e se alcançassem todos os objectivos definidos, durante
décadas, em ordem a fazer conhecido o Evangelho em todos os lugares de Portugal
e onde estivessem falantes da nossa língua.
Não
foi assim que ocorreu! O Senhor chamou-o pouco tempo depois de ter terminado o
seu ministério pastoral e missionário entre os irmãos, aqui em Lisboa, reduzida
a área de trabalho à dimensão que conhecemos, depois das muitas autonomias que
ele próprio incentivou. Foram 20 anos de grande significado para a Assembleia
de Deus aqueles em que José Pessoa foi o pastor responsável por toda a área e
ou apenas pastor missionário. Deus usou-o sobremaneira e hoje ainda são muitos
os que beneficiaram dessa obra evangelizadora, missionária, pastoral, social e
cultural.
Não
se pode olhar para trás e fazer o balanço da acção da Assembleia de Deus de
Lisboa durante os anos 70 a 90 sem recordar o ministério desse valoroso homem de
Deus. Certamente, no momento próprio, ele mereceu o respeito, a honra e
consideração dos irmãos. Aliás, disso dá a história testemunho cabal.
Mas
importa que as gerações presentes e vindouras, que fazem e farão a obra de Deus
nesta Assembleia de Deus, saibam disso e se alimentem do testemunho tão
marcante de um Servo exemplar. Não apenas se alimentem, mas se inspirem nele
para relevar o que caracteriza a cultura pentecostal enraizada na acção de quem
deu a sua vida por inteiro para servir os portugueses, seguindo o Senhor que o
conquistou aos 17 anos de idade.
4. Objectivo do
livro
O
livro que escrevi serve esses desígnios de modo directo, mas pretende ser
também um instrumento com relevo para a análise do percurso que nos trouxe até
aqui, homens e mulheres pentecostais, permitindo-nos ler melhor o presente e
perspectivar o que adiante vem, com a ajuda do Senhor.
É
verdade que mudou quase tudo em termos políticos, sociais, económico e
culturais em relação aos anos de 1940, quando José Pessoa conheceu o Senhor
Jesus Cristo, recebeu o baptismo no Espírito Santo e foi vocacionado para ser
missionário.
Também
mudou tudo em relação aos tempos em que foi ameaçado e perseguido no interior
de Portugal, quando, em 1959, deitou mão do arado em substituição do seu principal
mentor espiritual, o médico Bowker. Até em relação à experiência da fundação da
Assembleia de Deus de Coimbra, em 1963, à experiência da substituição de
Alfredo Machado em Lisboa em 1971, com João Sequeira Hipólito, da experiência
do retorno a Coimbra para «salvar o rebanho» que corria o risco de se
tresmalhar, da experiência de ser pastor aqui na congregação de Neves Ferreira,
em 1978, da experiência do pastorado que se iniciou em 1979 em toda a região de
Lisboa, tudo mudou.
Não
mudaram as necessidades espirituais daqueles para quem trabalham os discípulos
de Jesus hoje, aqui nesta Assembleia de Deus. Por outros métodos, com outra
dinâmica, com novos recursos, a acção da igreja actual não deve desmerecer o
exemplo de quem tão denodadamente semeou o que se vai segando. É que a semente
caiu em terra profunda a as ceifas serão contínuas em função desse trabalho.
Quando ouvimos alguém dizer que mantém memória de quanto foi importante ter
tido por pastor, conselheiro, amigo o missionário José Pessoa, quando ouvimos
dizer a um jovem que os avós davam testemunho de quão importante foi o
ministério de José Pessoa estamos em tempo de colheita do que foi então
semeado...
Conclusões
Penso
que o tempo que vos tomei foi excessivo, mas contando com a vossa benevolência
deixo-vos uma referência final: ler e divulgar este meu livro é um acto de
afirmação cultural da nossa fé! Nós somos discípulos de Jesus no século XXI e
temos em José Pessoa um testemunho contemporâneo de que a fé em Cristo toma e
empolga homens e mulheres que não baixam os braços e estão prontos a servi-lo
com a mesma determinação e empenho dos heróis da fé do passado mais longínquo.
Aos
da nossa geração, podemos apresentar a vida e obra de um herói da fé em quem
tocámos, a quem escutámos, de quem recebemos ânimo para prosseguir no caminho
da fé que um dia foi entregue aos santos! Um herói da fé com as mesmas virtudes
e defeitos dos de antanho, mas com a vantagem de ter estado na nossa casa, ter
comido à nossa mesa, ter-nos visitado quando estávamos necessitados...
José
Pessoa. Missionário por vocação
serve-nos de «ponto de encontro» com o passado recente aonde ainda vislumbrámos
a formação dos traços do nosso carácter, do nosso modo de servir e honrar o
Senhor. Nele podem os irmãos e amigos leitores encontrar um «roteiro» fiel do
caminho percorrido na evangelização, na missão, no ensino e intervenção social
desta Assembleia de Deus de Lisboa em particular. Aqui, na nossa cidade,
capital do país, mas também por Portugal inteiro e muitas partes do Mundo, José
Pessoa deu testemunho de quanto a Igreja estava a fazer em prol dos
portugueses, na sua missão específica de anunciar a Palavra de Deus sob a acção
do Espírito Santo.
Nós
colocámos a obra deste homem de Deus acessível na Biblioteca Nacional, mas isso
é menos relevante do que sabê-la à mão de todos quantos amam a Obra de Deus e
querem, conhecendo e sendo inspirados também pelo exemplo que nos deu, ser
participantes activos hoje e sempre!
Finalmente,
duas notas:
1
- O livro preserva o ensino da doutrina da salvação que norteava a acção
evangelística e missionária de José Pessoa. Pode ser um momento único para
«ouvi-lo», lendo a doutrina que sustentava a sua pregação. 2
– Se o pastor José Pessoa estivesse aqui, em presença, continuaria a incentivar
que se escrevessem livros para divulgar o Evangelho, instruir e edificar os
cristãos e a exortar para que houvesse «maior interesse nas igrejas. A nível de
todos os crentes, pela divulgação da literatura evangélica».
Eu
acrescento, se me permitem: Se não lermos e não incentivarmos o que nos diz
respeito directo, não se escreverão os livros que ainda nos fazem falta, em
particular os que relatem os feitos dos nossos heróis da fé! Por isso, hoje,
com o meu autógrafo e um presente, ou noutra ocasião que vos for propícia,
adquiram, leiam e divulguem José Pessoa.
Missionário por vocação.
Boa
leitura!
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