segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Emoção, história e o dever de ler… José Pessoa. Missionário por vocação.

Ontem, desfrutei do honroso convite para apresentar o meu livro José Pessoa. Missionário por vocação na Igreja Evangélica Assembleias de Deus Pentecostal de Lisboa, e ambiente intimista de Celebração. O texto que preparei deixo-o aqui para os meus amigos e leitores. É um naco da minha história pessoal que me diz que valeu a pena vivê-la. Na «comunicação», para não destoar muito do registo e ambiente da Celebração, servi-me dos tópicos e dissertei «quase» de improviso. Espero que o livro, agora, siga o seu curso e chegue às mãos de outros leitores.
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 1.      Emoção do momento.
Eu sei bem o que Jesus ensinou, enquanto conversava com a mulher samaritana, acerca dos locais de adoração, o que ainda hoje tem significado e faz todo o sentido: o que importa é adorar o Pai em espírito e em verdade! Mas estar nesta Casa de Oração traz à minha memória muitos momentos altos e de grande alcance espiritual. Sempre relacionados com o engrandecimento do Reino de Deus que está em mim e está em nós.
A minha história pessoal inclui momentos marcantes em várias fases da vida: Dezembro de 1965, quando pisei, pela primeira vez, o solo da cidade do Império e fui acolhido por Alfredo R. Machado, então pastor da AD de Lisboa, Dezembro de 1966, quando regressei de Luanda para frequentar o Curso do Instituto Bíblico e me integrei na Igreja Local, durante 6 meses, e em 1975, no regresso definitivo de Angola. Para além desses, entre muitos outros, refiro, a propósito um outro momento importante: Estive aqui convosco em 2005 para vos falar dum livro que tinha publicado em Dezembro de 2004, que tem por objectivo subsidiar a realização da história das Assembleias de Deus em Portugal e numa parte substancial ela trata da vida e obra de homens e mulheres que viram nascer esta grande Assembleia de Deus de Lisboa e participaram na sua expansão no território nacional, que ao tempo ia do Minho a Timor. Alguns, a quem o Senhor deu muitos anos de vida, ainda estarão entre nós e lembrar-se-ão dos que são referidos nessa obra e já estão com o Senhor, designadamente Beatriz da Ribeira e os irmãos Manuel e Joaquim Cartaxo Martins. Lembro-me que, nesse dia, além da apresentação do livro, dei testemunho do Evangelho e uma jovem senhora participante do culto declarou-se pronta a seguir Jesus, aceitando-o como Salvador e Senhor. Oxalá esteja fiel nos caminhos do Senhor!  
Cerca de 11 anos depois, estou de novo aqui convosco para apresentar um livro que há muito deveria ter sido escrito. Talvez por quem melhor o podia ter feito. Esta Igreja, que se reúne aqui e, ainda, em vários outros locais espalhados por Lisboa e outras cidades, merece, para glória do Senhor, todos os encómios por, ao longo de mais de oito décadas, ter feito pelos portugueses o que, em termos colectivos, está por reconhecer. E é algo que sociologicamente tem de ser, um dia, incluindo nas páginas da história do século vinte, em particular. Não é tanto pela obra social em sentido estrito - que é muita - que essa referência terá maior importância; é pela obra que o Senhor Jesus Cristo fez em dezenas de milagres de portugueses que influenciaram depois dezenas e dezenas de milhares de famílias que contribuíram decisivamente para conformar, em parte, a sociedade contemporânea. O balanço far-se-á, mais tarde, quando o Senhor vier.
2.      Inspiração e exemplo. José Pessoa. Missionário por vocação.
Mas propriamente o que quero é dar relevância àquele Ministro do Evangelho que está no centro do livro que vos venho apresentar, de cuja leitura, estou certo, tirarão maior proveito. Eu sei que, comummente, socorremo-nos mais facilmente dos exemplos dos heróis da fé que nunca conhecemos, com quem nunca privámos, cujas vidas pessoais são em grande parte desconhecidas; porém, temos notícia bíblica do que os distinguiu na relação com Deus, com o povo escolhido, Israel, ou com a Igreja do Senhor Jesus Cristo. De forma inspirada, o autor da Carta aos Hebreus, para exemplificar a fé, referiu a vida de vários santos que agradaram a Deus e cujo testemunho ainda hoje no inspira. Essa lista não está fechada, nem completa. Admite, por isso, que, em cada momento, além desses, que a Bíblia expressamente refere, nos lembremos de quem lidou connosco de perto e nos inspirou a seguir o exemplo do Senhor Jesus Cristo. Sei, por experiência, que é mais difícil. É que os seus defeitos, as suas falhas, as suas fraquezas, muitas vezes, nos desiludiram, nos interpelaram, nos fizeram reflectir...
Pois é, os nossos irmãos, companheiros, amigos, que deram ombro connosco à Causa do Senhor Jesus Cristo, não eram perfeitos. Umas vezes erraram, outras fizeram-nos errar; umas vezes descreram, outras fizeram-nos descrer; umas vezes deram-nos a mão, outras vezes desampararam-nos... Enfim, quase até ao infinito, podíamos enumerar as situações em que não estiveram tão bem quanto a nossa necessidade exigia... Mas isso, irmãos, é natural num processo de aperfeiçoamento contínuo! O que importa realçar são os momentos em que se tornaram gigantes e nos disseram: «Sede meus imitadores como em sou de Cristo!» O apóstolo Paulo não reivindicava para si um estado de perfeição, de vida sem mácula: ele chamava os salvos à imitação de Cristo, inspirando-se no seu próprio exemplo de vida em que ele se parecia com Cristo!
Estou convicto que o nosso crescimento pessoal e eclesial será mais sólido e frutuoso se formos capazes de ver no nosso companheiro de caminhada na fé as virtudes do Altíssimo para além ou apesar das falhas ou erros de percurso. A relação de amor com o outro será assim mais facilitada e as leis do Reino de Deus muito mais evidentes entre nós. A nossa religião será muito menos o cumprimento de formalismos e muito mais o cuidado com a existência do outro, qualquer que ele seja, em particular o que precisa de inspiração no meu testemunho para avançar até ao alvo que está proposto e é a esperança comum: a casa do Pai!
3.      Chamado no tempo de Deus…
José Pessoa foi chamado à Casa do Pai quando, aos nossos olhos, não era expectável. Ainda se esperava muito do seu ministério e ele próprio estava disponível para continuar a servir, tendo de pé um projecto de enorme relevância para a Assembleia de Deus de Coimbra e suas áreas de missão nas Beiras. Muitas outras actividades ministeriais viriam a seguir quando algumas nuvens desanuviassem e, por fim, desaparecessem. Provavelmente, pelo que sabemos hoje, continuaria a fazer pontes entre irmãos para que o Movimento Pentecostal não perdesse a sua dinâmica própria e se alcançassem todos os objectivos definidos, durante décadas, em ordem a fazer conhecido o Evangelho em todos os lugares de Portugal e onde estivessem falantes da nossa língua.
Não foi assim que ocorreu! O Senhor chamou-o pouco tempo depois de ter terminado o seu ministério pastoral e missionário entre os irmãos, aqui em Lisboa, reduzida a área de trabalho à dimensão que conhecemos, depois das muitas autonomias que ele próprio incentivou. Foram 20 anos de grande significado para a Assembleia de Deus aqueles em que José Pessoa foi o pastor responsável por toda a área e ou apenas pastor missionário. Deus usou-o sobremaneira e hoje ainda são muitos os que beneficiaram dessa obra evangelizadora, missionária, pastoral, social e cultural.
Não se pode olhar para trás e fazer o balanço da acção da Assembleia de Deus de Lisboa durante os anos 70 a 90 sem recordar o ministério desse valoroso homem de Deus. Certamente, no momento próprio, ele mereceu o respeito, a honra e consideração dos irmãos. Aliás, disso dá a história testemunho cabal.
Mas importa que as gerações presentes e vindouras, que fazem e farão a obra de Deus nesta Assembleia de Deus, saibam disso e se alimentem do testemunho tão marcante de um Servo exemplar. Não apenas se alimentem, mas se inspirem nele para relevar o que caracteriza a cultura pentecostal enraizada na acção de quem deu a sua vida por inteiro para servir os portugueses, seguindo o Senhor que o conquistou aos 17 anos de idade.
4.      Objectivo do livro
O livro que escrevi serve esses desígnios de modo directo, mas pretende ser também um instrumento com relevo para a análise do percurso que nos trouxe até aqui, homens e mulheres pentecostais, permitindo-nos ler melhor o presente e perspectivar o que adiante vem, com a ajuda do Senhor.
É verdade que mudou quase tudo em termos políticos, sociais, económico e culturais em relação aos anos de 1940, quando José Pessoa conheceu o Senhor Jesus Cristo, recebeu o baptismo no Espírito Santo e foi vocacionado para ser missionário.
Também mudou tudo em relação aos tempos em que foi ameaçado e perseguido no interior de Portugal, quando, em 1959, deitou mão do arado em substituição do seu principal mentor espiritual, o médico Bowker. Até em relação à experiência da fundação da Assembleia de Deus de Coimbra, em 1963, à experiência da substituição de Alfredo Machado em Lisboa em 1971, com João Sequeira Hipólito, da experiência do retorno a Coimbra para «salvar o rebanho» que corria o risco de se tresmalhar, da experiência de ser pastor aqui na congregação de Neves Ferreira, em 1978, da experiência do pastorado que se iniciou em 1979 em toda a região de Lisboa, tudo mudou.
Não mudaram as necessidades espirituais daqueles para quem trabalham os discípulos de Jesus hoje, aqui nesta Assembleia de Deus. Por outros métodos, com outra dinâmica, com novos recursos, a acção da igreja actual não deve desmerecer o exemplo de quem tão denodadamente semeou o que se vai segando. É que a semente caiu em terra profunda a as ceifas serão contínuas em função desse trabalho. Quando ouvimos alguém dizer que mantém memória de quanto foi importante ter tido por pastor, conselheiro, amigo o missionário José Pessoa, quando ouvimos dizer a um jovem que os avós davam testemunho de quão importante foi o ministério de José Pessoa estamos em tempo de colheita do que foi então semeado...
Conclusões
Penso que o tempo que vos tomei foi excessivo, mas contando com a vossa benevolência deixo-vos uma referência final: ler e divulgar este meu livro é um acto de afirmação cultural da nossa fé! Nós somos discípulos de Jesus no século XXI e temos em José Pessoa um testemunho contemporâneo de que a fé em Cristo toma e empolga homens e mulheres que não baixam os braços e estão prontos a servi-lo com a mesma determinação e empenho dos heróis da fé do passado mais longínquo.
Aos da nossa geração, podemos apresentar a vida e obra de um herói da fé em quem tocámos, a quem escutámos, de quem recebemos ânimo para prosseguir no caminho da fé que um dia foi entregue aos santos! Um herói da fé com as mesmas virtudes e defeitos dos de antanho, mas com a vantagem de ter estado na nossa casa, ter comido à nossa mesa, ter-nos visitado quando estávamos necessitados...
José Pessoa. Missionário por vocação serve-nos de «ponto de encontro» com o passado recente aonde ainda vislumbrámos a formação dos traços do nosso carácter, do nosso modo de servir e honrar o Senhor. Nele podem os irmãos e amigos leitores encontrar um «roteiro» fiel do caminho percorrido na evangelização, na missão, no ensino e intervenção social desta Assembleia de Deus de Lisboa em particular. Aqui, na nossa cidade, capital do país, mas também por Portugal inteiro e muitas partes do Mundo, José Pessoa deu testemunho de quanto a Igreja estava a fazer em prol dos portugueses, na sua missão específica de anunciar a Palavra de Deus sob a acção do Espírito Santo.
Nós colocámos a obra deste homem de Deus acessível na Biblioteca Nacional, mas isso é menos relevante do que sabê-la à mão de todos quantos amam a Obra de Deus e querem, conhecendo e sendo inspirados também pelo exemplo que nos deu, ser participantes activos hoje e sempre!
Finalmente, duas notas:
1 - O livro preserva o ensino da doutrina da salvação que norteava a acção evangelística e missionária de José Pessoa. Pode ser um momento único para «ouvi-lo», lendo a doutrina que sustentava a sua pregação. 2 – Se o pastor José Pessoa estivesse aqui, em presença, continuaria a incentivar que se escrevessem livros para divulgar o Evangelho, instruir e edificar os cristãos e a exortar para que houvesse «maior interesse nas igrejas. A nível de todos os crentes, pela divulgação da literatura evangélica».
Eu acrescento, se me permitem: Se não lermos e não incentivarmos o que nos diz respeito directo, não se escreverão os livros que ainda nos fazem falta, em particular os que relatem os feitos dos nossos heróis da fé! Por isso, hoje, com o meu autógrafo e um presente, ou noutra ocasião que vos for propícia, adquiram, leiam e divulguem José Pessoa. Missionário por vocação.
Boa leitura!
Lisboa, Neves Ferreira, 7 de Fevereiro de 2016.





  

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