sábado, 11 de agosto de 2012

Quase desconhecidos...

Li e pensei muito:
«Na última década, cada vez mais acontece que chegamos ao pé das pessoas e não sabemos qual é o seu quadro de referência, quais as suas memórias. Cada vez mais a estrutura doutrinal, conceptual, filosófica de cada pessoa é um mundo que nos ultrapassa. Não sabemos quais são os seus referentes habituais, diários.»
Parece incrível, mas esta observação da realidade é mais objectiva do que imaginamos.
Eu revejo-me no quadro de valores do Evangelho e cresci a viver (tentar) vivê-los em comunidade. No seu seio aprendemos o uso de linguagem e simbologia que nos identifica, para além das matrizes básicas que sustenta a «fé comum». É fácil assim apertar a mão e verbalizar uma saudação de sentido universal (entregámo-la a qualquer outro participante da comunidade como o mesmo sentimento e significado...). O alargamento ao exterior da influência da comunidade faz-se por causa dessa conjugação de valores e de identificação de linguagem e propósitos.
Mas isso depende de continuidade «ideológica», da permanência das referências, das matrizes doutrinais, da identificação na simbologia...
O pior é quando nos apercebemos que «somos estranhos» na comunidade, apesar da aparência que resulta do contexto e do discurso (cada vez mais vago e quiçá por causa disso...), e só nos une o hábito de estar no mesmo local, a uma determinada hora, para um mesmo cerimonial... Mas cada um por si, ignorando o que o identifica, em substância, ao outro...
Somos uns desconhecidos quando não sabemos a história comum ou quando identificamos de modo diferente os fundamentos ideológicos que justifica pertencer à comunidade.
Estamos «perdidos» na ignorância que manifestamos uns dos outros...
Podíamos exemplificar com miríades de situações este desconhecimento de morte que grassa nas comunidades. Bastar-nos-á a lembrança daquele casal que há dias confessava, desiludido, confuso, «perdido»: «Em tal comunidade cristã participávamos da Ceia do Senhor, sem qualquer restrição, apesar de não termos obedecido ao mandamento do baptismo nas águas; aqui, onde estamos agora, não no-lo permitem porque não somos baptizados e membros da comunidade em comunhão; noutra comunidade, onde também costumamos participar, dizem-nos que o baptismo não corresponde a qualquer mandamento a que devamos obediência e, por isso, entre eles, não se pratica...»

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