quarta-feira, 27 de maio de 2009

Sigam o meu exemplo...

A crítica é um exercício social indispensável. Ninguém questiona: é um axioma! Pode haver crise em qualquer esquina do percurso diário, seja porque falta o dinheiro, a segurança... seja porque falta o civismo, a educação... seja porque a riqueza está mais nas mãos duns do que doutros... seja lá por qual razão for! Não há, porém, crise de críticos! Atropelam-se nas veredas que dão acesso aos santuários onde ela se faz com mais eficiência, chegam a mais gente, a muito mais gente, onde se reproduzem. Lançam críticas como o lavrador, em tempo próprio, lança sementes à terra, na mira que germinem e se... multipliquem! O crítico não quer ser um «fala-só»: lança a crítica para gerar mais críticos. Passa, depois, a viver em comunidades, formadas em função da crítica inicial, alimentando-se da própria crítica ou da que esta induz... O crítico em regra aponta os defeitos, não acentua a virtudes (lá vai dizendo, que aqui ou ali, que isto ou aquilo ainda se tolera, mas era o mínimo que se podia dizer... ), verbera os erros, não releva o acerto, exalta-se no seu pedestal e não se cansa enquanto não o eleva acima de qualquer outro... O crítico esconde, em regra, a inveja pelo sucesso alheio, mas traz para a ribalta os seus feitos, acima de qualquer crítica enquanto não forem alvo da crítica dos críticos que dela se engravidaram...
Os críticos já não vêem o mundo que os rodeia senão em função da crítica que todos os dias ensaiam. Até o que têm que fazer, por dever de ofício, fazendo-no por espírito crítico! «Ele foi ao futebol! Palerma, bem lhe disse que não devia gastar dinheiro naquilo que não é pão...» - diz o crítico do vizinho hoje, quando ontem lhe tinha dito que essa indústria precisa de apoios pois suscita muito apoio popular. «Investiu naquele Banco só porque é moda! Ainda vai ver o dinheiro em perigo...» - diz o crítico do colega a quem tinha dito que muita gente ilustre, sua amiga, claro, estava a aderir em massa às iniciativas publicitárias, feitas por profissionais de altíssimo gabarito. «Tem aqui o melhor ensino e vai perder tempo a ouvir prédicas dum herético...» - diz o crítico depois de ter enaltecido o orador, de quem até fora formando.
Lidar com críticos ferozes, que se atiram ao que se diz, faz ou pensa (quem diz, faz ou pensa não são eles...) como cão esfaimada a um osso descarnado, nunca foi fácil. Ouví-los perorar, para aguentar o seu séquito de fieis (ouvintes, alunos, discípulos...), acerca do que os outros fazem mal, dos erros que cometem, das inverdades que dizem, do caminho errado em que andam, das más escolhas que fizeram (se fizessem exactamente o mesmo, se dissessem a mesmas coisas, se andassem pelo mesmo caminho mas exactamente em coincidência com o que dizem os críticos, outro galo cantaria...) anula a tolerância, segrega a comunhão, acirra as paixões, promove o fanatismo, em suma, divide para manter domínio, para lavrar o campo de cuja sementeira se espera que surja crítica ainda mais feroz e sincrética: Eu ou ele! Sem meio termo.
O que falta ouvir - e parece que, com referência a esse discurso, a crítica não não se assume como virose, mas simples constatação da evidência que uns aceitam, outros não... - e talvez faça a diferença nas comunidades humanas, maiores ou menores, vinculadas por este ou aquele código filosófico, religioso ou moral, é a mais difícil de todas as críticas: «Façam como eu, sigam o meu exemplo!». O que diz frei Tomás não interessa, o que vale é o que ele faz! Tanta crítica para desunir, apoucar, vilipendiar, desmerecer... Quando é que estaremos em condições de demonstrar que o que dizemos está certo, porque fazemos exactamente como dizemos!? A excelência da crítica está na coerência que se vê entre o que se diz e o que se faz.
Evidentemente que há também a crítica construtiva! Feita poucas vezes e normalmente com muito paternalismo ou até desdém... Mas diante dela, oportuna, de bons modos, afável, há que aceitá-la, adoptá-la, praticá-la... porque o «que aceita uma crítica construtiva (mesmo paternalista ou desdenhosa) terá o seu lugar entre os sábios»!

1 comentário:

  1. Segue pelo caminho dos bons e imita o que fazem os homens rectos, porque os que são honestos e íntegros continuarão a habitar a terra... Não imites o que é mau, mas sim o que é bom.

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