quinta-feira, 29 de setembro de 2016

500 anos da Reforma Protestante...

Tópicos sobre a Reforma Protestante em Portugal

(Celebração dos 500 anos da Reforma: 1517-2017)

Parte I

Levei dois dias à volta da questão de saber que factores terão contribuído para a recepção tardia da Reforma (protestante) em Portugal (mais de 3 séculos), e conclui ela não tem resposta fácil ou simples.
Antes de mais, da Reforma Protestante, tal qual ela ocorreu na Europa do Norte e na Inglaterra, só interessam, naturalmente, as questões que se centram na redescoberta dos valores da Escritura Sagrada concernentes aos pilares erigidos por Lutero: Só a fé, só a graça de Deus, só as Escrituras.
Mais de três séculos depois, quando são conhecidos os primeiros «sinais» do cristianismo reformado, digamos assim, já não eram relevantes as questões que motivaram as teses de Lutero, para discutir pelos académicos do seu tempo e visando a reforma da Igreja Católica Romana.
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São muitos os factores, impeditivos da recepção em Portugal dos valores da Reforma do século 16, que podemos destacar num olhar rápido pela história desses séculos:

A questão dos territórios ultramarinos e a exploração da riqueza mobilizava a Coroa, a Monarquia e a alta burguesia comercial e correspondia ao principal desígnio nacional;

As relações com o Papa eram decisivas para as questões da partilha do mundo descoberto, em particular entre a Coroa Portuguesa e a Espanhola;

Com os portugueses, ainda nesse século 16 e pouco depois da eclosão do movimento reformista na Alemanha, o Papa acordou que a definição e exploração dos territórios implicariam a expansão da fé da cristã; com os Castelhanos, o Papa acordou que a Coroa seria um obstáculo intransponível às ideias da Reforma Luterana;

As Coroas Castelhana e Portuguesa dominavam as ordens religiosas com poder militar, o que foi conseguido, no caso português, num processo de dezenas de anos de negociação permanente, concluído já no reinado de D. João III, meados do século 16;

Os jesuítas foram incumbidos de propagar a fé e o ensino nos territórios ultramarinos, em particular no Brasil e em África, dominando ou influenciando decisivamente o poder político e formando «as consciências»;

A Coroa portuguesa aceitou sem discussão a Contra-Reforma saída do Concílio de Trento (1545-1653);

As elites portuguesas estavam ligadas à questão da distribuição da riqueza do Brasil e da India e não viam qualquer interesse em discutir a hegemonia Papal e da Igreja Católica Romana;

Quaisquer ideias que pudessem afectar os interesses da Coroa ou da Igreja morriam nas fogueiras do Tribunal do Santo Ofício e a Inquisição manteve-se activa até finais do século 18 (foi extinta já no início do século 19);

Os 60 anos sob a Coroa Castelhana e as disputas para recuperar e manter a independência nacional absorveram todas as energias da elite nacional durante mais de 1 século.


Ou seja, porque a realidade política, económica e social agregou sempre os interesses do Catolicismo Romano e do domínio Papal, não se abriram brechas na sociedade portuguesa por onde pudessem penetrar as ideias subjacentes à Reforma Protestante. 

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