segunda-feira, 4 de março de 2013

Exportar é «ruinoso»!

Imaginem!? Afinal exportar é «ruinoso»...
Estou cansado de ler estatísticas sobre o sucesso das exportações portuguesas nos últimos meses. Caramba, não se fala doutra coisa e quando elas abrandam vem «abaixo e Carmo e a Trindade»: - Aqui d' el Rei que baixaram as exportações e vamos morrer! É tudo pelas exportações, é tudo para as exportações: não dá para a Europa (para a Espanha nem pensar, está tudo a falir, até a Pescanova, vejam lá, que muitos ainda pensam que é uma empresa de sucesso portuguesa...), exportemos para Angola, Brasil, EUA, Colômbia, sei lá, para a China e todos os demais países emergentes... Vejam que até o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros do Governo de Portugal não faz outra coisa que não seja diplomacia económica com «paninhos quentes» (não vá o procurador-geral dum desses países destinatários dos produtos portugueses que manda para cá «uns cobres» pôr em causa tanto esforço....). «Temos que exportar, exportar», é o lema. «Exportar e...em força!» Doutro modo não nos safamos....
Mas, afinal, exportar é péssimo!
Já o sabíamos quando as estatísticas recentes levaram em linha de conta a exportação do ouro português. Sim, do ouro que essas lojinhas espalhadas pelo país andam a recolher, comprando-o ao desbarato às famílias em dificuldades. Compram a dez, por exemplo, vendem a 50, e quem ganha mais são os compradores estrangeiros que ainda assim compram barato. Exportamos os anéis (muitos anéis) e por isso as estatísticas subiram...
Mas o que nós ainda não tínhamos ouvido dizer (pelo menos eu não tinha ainda ouvido dizer e estava até convencido da bondade da política de «exportação em massa» dos produtos portugueses) é que, em relação a alguns produtos (desses que exportamos muito), o melhor é vendê-los cá! Temos é que chamar os compradores, recebê-los, tratá-los bem, com competência, profissionalismo... Veja-se o caso do vinho português, que é bom. Se o produtor exportar uma garrafa recebe, por exemplo, 2,50 euros do comprador estrangeiro, que é um Hotel, que o vende ao consumidor por 20,00 euros. A diferença fica a girar na economia do importador. Se o produtor vender a um Hotel em Portugal e este o vender a um consumidor final português por 10, 00 euros, diferença fica a girar cá; do mesmo modo, se o vender a um consumidor estrangeiro (que está cá porque gosta dos portugueses e de Portugal e do que se lhe oferece...) o dinheiro (diferença) fica a girar cá e, o mais interessante, é que veio de fora, doutra economia. Ou seja, se vendermos cá em vez de exportarmos fica mais dinheiro a girar cá dentro e algum vem de fora. Ficamos mais ricos!
Então, a salvação não está na exportação do que se pode consumir cá dentro (exportemos os excedentes e para isso é preciso trabalhar muito, muito mais...): está em consumirmos nós próprios e termos muitos amigos de fora que gostem de nós e do que produzimos e venham cá consumir (podem, depois, levar a mala cheia para oferecer à família e aos amigos...)
Então a austeridade que rouba recursos às famílias e a falta de visitantes estrangeiros são situações malignas (exportamos porque não temos dinheiro para consumir e porque os nossos amigos nos não visitam)...
Fiz-me entender? Acho que não... mas valeu a pena o exercício porque assim, quando ouvir falar de exportações, já não acredito em tudo o que me dizem.

PS: Só agora se me fez luz acerca duma conversa que ouvi a um hoteleiro suíço, quando apreciávamos o vinho que estava na mesa: era do Douro, custava 47,50 francos suíços, e o produtor tinha-o levado lá ao preço unitário de 7,50 a garrafa... Como o homem esfregava as mãos de contente por poder oferecer um vinho daquela qualidade aos suíços  por um preço tão módico para eles...

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