quarta-feira, 13 de junho de 2018

Victor Vaz Martins

Hoje andei à volta duma história com forte carga emotiva! Em 1963, no interior da Guiné-Bissau, um homem foi morto, às mãos das forças militares e de segurança, por ser suspeito de colaborar com o IN! Mas ele era um simples evangelista que queria partilhar as Boas Novas com os seus conterrâneos, que viviam «enterrados» no mato, sem contacto com a «civilização». Vou usar as palavras de Ernesto Lima: «No dia 29 de Março de 1963, à tardinha, numa sexta-feira, o ancião Victor Vaz Martins foi chamado pelo Comandante Militar de Empada. Ele prontamente saiu, sem se despedir, pensando que, como das outras vezes, ia regressar dentro de pouco tempo. Mas afinal era a última vez que deixava a sua casa e família. Foi e ficou lá horas consecutivas e a família o esperava ansiosamente. As autoridades militares também prenderam outras pessoas com influência na vila, entre as quais estava o antigo evangelista Pedro Silva, com o mesmo propósito. Nunca explicaram aos familiares a razão destas prisões sem culpa formada. Pensa-se que julgavam que os detidos tinham algum contacto com os guerrilheiros do PAIGC mas sem provas. (Durante a Guerra de Independência - 1962 a 1974 - todo o letrado Guineense era suspeito pela PIDE quando participasse na governação.)
Naquela mesma noite, um dos detidos foi imediatamente fuzilado, mas o ancião Victor Vaz Martins, Pedro Silva e mais outros detidos foram submetidos aos piores maus-tratos físicos que se possa imaginar! Além de tudo isto, os irmãos Pedro Silva e o ancião Victor Vaz Martins foram pendurados de cabeça virados para baixo e pés para cima, sob terríveis torturas, até não poderem mais suportar. Porém, o ancião Victor Vaz Martins, pouco antes de morrer, fez uma breve oração a Deus, dizendo: "Jesus, peço-te que perdoe-lhes todo este mal que nos fazem!"»
Victor Vaz Martins fora funcionário administrativo e chegara a desempenhar o cargo de Chefe de Posto na estrutura colonial. Era casado, tinha sete filhos e andava de tabanca em tabanca falando de Jesus aos povos da região de Empada...
Hoje falei com a filha, que estava grávida pela quarta vez quando lhe vieram anunciar a morte do pai... Foi ela quem me disse que a viúva de Victor Vaz Martins, sua mãe, vive em Bissau e está quase a fazer 103 anos. Passados 51 anos, aquela velhinha tem direito a um abraço de ternura. Presumo que nunca tenha sido «compensada» por lhe terem matado o marido tão injustamente. Fica o exemplo dum homem simples, ignorado do mundo, capaz de perdoar os seus algozes à semelhança do que aprendera do seu Senhor!

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