segunda-feira, 29 de março de 2010

ALEXANDRE HERCULANO (In Memoriam)

Fez ontem, dia 28 de Março de 2010, duzentos anos (200) que nasceu, na cidade de Lisboa, no Pátio do Gil, à Rua de São Bento, em 28 de Março de 1810, o grande português de nome Alexandre Herculano Carvalho de Araujo.

Vi a Televisão e os grandes noticiários de todas as estações. Não sei se foi dada a notícia da efeméride. Com relevo, não foi com certeza. Teria chamado a minha atenção.

Seria normal, num País com nove séculos de história, que os responsáveis pela Cultura, do ensino, da Educação se lembrassem desta data.

Não há futuro que valha a pena se ignoramos o passado e, em especial, os nossos homens maiores, que nos deixaram exemplo na cultura, na liberdade de consciência, na liberdade religiosa…

Não se trata de endeusamento, mas de reconhecimento pelo contributo fabuloso, diria, inigualável, deste português que nos honra. Mereceria uma salva de palma à porta do Mosteiro dos Jerónimos, onde está o seu túmulo.

Alexandre Herculano agigantou-se no seu tempo e é ainda um GIGANTE exemplar diante dos nossos olhos pós-modernistas: na intelectualidade, na dignidade, no saber, na politica, no trabalho, na escrita, na amizade, na honestidade…

Um ser humano ímpar!

Fazem-nos falta HOMENS assim.

Têm memória, os portugueses? Tão tristes e desalentados com o presente já nem olham para trás para procurar inspiração nos seus maiores, nos seus vultos de referência…

Não merece o futuro quem, pelo esquecimento, assim avilta tamanho e tão nobre antepassado!

José Manuel Martins



PS: O autor da História da origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal morreu em Vale de Lobos, em 13 de Setembro de 1877, retirado dos meios sociais e políticos, como lavrador.
«Aos que, ouvindo e lendo declamações contra as tendências legítimas da moderna civilização, vacilarem nas crenças da liberdade política e da tolerância religiosa, pedimos que, depois de lerem este livro, procurem na sua consciência a solução de um problema pelo qual concluiremos, e que encerra o resultado final, a aplicação prática do presente trabalho histórico. A resposta que ela lhes der servir-lhe-á de guia no meio das incertezas, e de conforto no meio do desalento em que a escola da reacção procura afogar os mais nobres e puros instintos do coração humano.
Eis o problema: se no princípio do século XVI, quando ainda, segundo geralmente se crê, as opiniões religiosas eram sinceras e ferventes, e o absolutismo estava, na aparência, em todo o seu vigor de mocidade, acharmos documentos irrefutáveis que os indivíduos colocados em eminência da jerarquia eclesiástica não eram, em grande parte, senão hipócritas, que faziam da religião instrumento para satisfazer paixões ignóbeis; que o fanatismo era mais raro do que se cuida; que debaixo da monarquia pura a sociedade, moral e economicamente gangrenada, caminhava para a dissolução, e que nos actos do poder faltavam a cada passo a lealdade, o são juízo, a justiça, a probidade, deveremos, acaso, acreditar na sinceridade dos inúmeros apóstolos da reacção teocrática e ultramonárquica que surgem de repente nesta nossa época, depois de cento e cinquenta anos de discussão religiosa e política, em que as antigas doutrinas foram vitoriosamente combatidas, os princípios recebidos refutados ou postos em dúvida e, até, mais de uma verdade ofuscada por sofismas subtis? Deveremos supor filhos da convicção estes entusiasmos exagerados pelas ideias disciplinares de Gregório VII e pelo sistema político de Luís XI ou Filipe II, numa época em que, por confissão unânime dos próprios apóstolos do passado, predomina no geral dos espíritos cultivados o contágio a do cepticismo?
Que o leitor busque resposta a estas perguntas na voz íntima do seu coração e, depois, decida entre a reacção e a liberdade.»

(in Prólogo, História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal).

Sem comentários:

Enviar um comentário